Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Descrição de chapéu África

Pandemia deixa sequelas nos países com menor poder agrícola; Brasil pode ajudar

Crise sanitária trouxe problemas ao sistema alimentar de países do Caribe, que vivem do turismo

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Um ano depois do início da pandemia nos países da América Latina, da América Central e do Caribe, a situação dos pequenos produtores está melhor. O desequilíbrio inicial, tanto no recebimento de insumos como no da comercialização de produtos, perdeu força.

O efeito da pandemia, porém, trouxe sérios problemas ao sistema alimentar de alguns países da região, principalmente nos do Caribe, que vivem do turismo.

Um migrante venezuelano segura um cartaz em que se lê "Temos fome", nas ruas de Guayaquil, no Equador, durante a primeira onda de contágio do novo coronavírus - José Sanchez - 22.abr.2020/AFP

Essa atividade teve uma redução de 70% na região, e os países, dependentes dessas receitas para a compra de alimentos, encontram dificuldades no abastecimento alimentar, segundo Manuel Otero, diretor-geral do IICA (Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura).

Otero diz que é impressionante a cadeia de solidariedade que se formou. Os temas regionais estão sendo compartilhados, e há uma troca de experiências.

Essa solidariedade, no entanto, tem de ser transformada em ação prática, afirma o diretor da entidade, que há 79 anos busca uma integração dos países da região.

“O instituto escuta, propõe e busca dar uma resposta aos problemas com base na experiência dos países”, diz.

Os grandes produtores não foram afetados nesta crise. Eles avaliam os cenários, buscam soluções para os custos com base na tecnologia e obtêm margens. Isso não ocorre com os pequenos.

Estes não recebem preços justos, o que gera uma constante crise de rentabilidade em seu negócio. Essa falta de recursos é transferida para a atividade e faz com que o produtor cuide cada vez menos do solo, perca produtividade, receba ainda menos pelo trabalho e, sem opções, migre para os centros urbanos.

É um círculo vicioso que se repete. Esses pequenos produtores querem sair desse círculo, mas, nas condições atuais, não conseguem, afirma o diretor do IICA.

Ele cita um caso emblemático. Um atendente de grandes redes que servem café nos países desenvolvidos pode receber, apenas com a gorjeta, 22 vezes mais do que recebe o produtor de café em países centro-americanos. Estudos mostram que, de cada dólar negociado na cadeia final do café, apenas dois centavos ficam com o produtor.

Os produtores têm de vir em primeiro lugar, e o cooperativismo deve fazer parte da solução dos problemas. Afinal, boa parte do que é produzido e exportado tem baixo valor agregado, afirma Otero.

“A zona rural tem de dar oportunidades, permitir ao jovem que utilize tecnologia e que fique no campo. Sem isso, não há retorno social e econômico.”

Otero acredita, no entanto, em uma mudança da agricultura nos próximos dez anos. Para isso, é preciso uma política pública de longo prazo e de investimentos públicos e privados. É necessário que haja uma sinergia entre o urbano e o rural.

O uso de tecnologia e a cooperação entre os países serão fundamentais. Pelo menos 77 milhões de moradores do campo não têm uma internet de qualidade nos países da América Latina e do Caribe, e o conhecimento hoje é transmitido por meio da conectividade.

No campo da cooperação, o diretor do IICA julga que o Brasil tem muito a oferecer. O país desenvolveu uma agricultura tropical muito forte e endógena. Esses avanços têm de ser repassados para outros países da região, que ainda têm uma agricultura inconclusa.

A experiência do Brasil, via Embrapa e universidades, deve ultrapassar continentes, segundo ele, atingindo também a África.

Os países africanos, dependentes de tecnologia e assistência, têm de estar juntos nessa busca por uma nova agricultura. Condições climáticas, comerciais, ambientais e a presença do jovem no campo são temas que devem unir os países.

O diretor da entidade acredita que a agricultura é a solução para os países das Américas e da África, mas os produtores devem ser os primeiros atores quando se discute um sistema agroalimentar.

A cooperação entre os diversos países tem de levar em consideração as culturas e especificidades de cada um deles. Não há uma receita de bolo pronta. Quem não levar em consideração esses detalhes na África, por exemplo, poderá ter uma grande frustração em seu projeto, afirma Otero.

As decisões políticas têm de ser com base na ciência e na sustentabilidade. Para ele, a agricultura deve ser parte da solução, e não dos problemas. Os objetivos básicos dessa agricultura são alimentos saudáveis, sustentáveis e equitativos.

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