Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Embrapa quer criar nova fronteira agrícola no país, apenas no inverno

Aumento de área de cultibo no sul elevaria a produção de trigo, que seria destinada à produção de ração

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Os três estados da região Sul semearam 13,9 milhões de hectares de soja e de milho na safra de verão e vão destinar apenas 2,4 milhões a esses produtos na de inverno.

Restam 11,5 milhões de hectares para outras culturas no período mais frio do ano, mas apenas 2,98 milhões deles serão semeados com as culturas de inverno, como trigo, cevada, triticale e outros.

O trigo lidera a área, mas há espaço para uma evolução grande na produção. Para tocar adiante um programa de aproveitamento dessa área no inverno, a Embrapa, a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) e a Farsul (Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul) estão criando um programa específico para o período.

A Embrapa desenvolve e apresenta resultados técnicos; a ABPA incentiva os contratos entre produtores e indústrias; e a Farsul indica aos produtores as vantagens da participação nesse programa.

É um desafio, mas é uma ação necessária, segundo Antônio da Luz, economista-chefe da Farsul. “Estamos ficando para trás e perdendo para nós mesmos”, afirma ele, se referindo ao Rio Grande do Sul.

Com essa ação, o país poderá ter uma nova fronteira agrícola destinada ao cultivo de inverno, afirma Osvaldo Vasconcellos Vieira, chefe-geral da Embrapa Trigo.

O aumento de área elevaria a produção de trigo, que seria destinada, em boa parte, à produção de ração. Rio Grande do Sul e Santa Catarina estão perdendo competitividade em relação a outros estados, inclusive ao Paraná, devido à falta de milho.

A saída é fazer a composição da ração com produtos colhidos no inverno, uma vez que o milho escasseou no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.

Além disso, a valorização do cereal, a utilização na produção de etanol e o aumento das exportações obrigam os estados com produção menor do cereal a buscarem novas saídas, e com custos menores.

Com o aproveitamento da região norte do estado no inverno, os gaúchos poderiam elevar a safra deste período de 2,3 milhões de toneladas para 10,9 milhões. Com isso, as proteínas produzidas no estado ganhariam competitividade.

Luz diz que é um desafio para cinco a dez anos ocupar 100% dessa área disponível. A intenção inicial é que o plantio de trigo seja feito pelos produtores que já adotam essa cultura. Eles têm máquinas e gente especializada.

Francisco Turra, ex-presidente da ABPA, acredita que esse programa deverá evoluir rapidamente. As indústrias têm interesse em garantir matéria-prima para a produção de ração.

O empecilho inicial é a falta de semente. Os contratos iniciais das agroindústrias com os produtores poderão elevar rapidamente em 500 mil hectares a área de produção.

Turra destaca que vários países, que não têm milho suficiente, adotam culturas de inverno na alimentação de aves e de suínos. O Canadá, grande produtor de proteínas, é um exemplo, cita ele.

Para Vieira, da Embrapa, não haverá variedades específicas para a produção de trigo para ração. Será feito apenas um refinamento, dando prioridade a cultivares com maior rendimento.

É meramente uma questão comercial, afirma ele. O trigo para a ração pode ser o de maior produtividade por hectare. Já o destinado à fabricação de pão exige mais qualidade.

O chefe da Embrapa Trigo afirma, porém, que o triticale é uma das boas saídas para a composição da ração. É uma cultura rústica, e um manejo adequado permite uma redução dos riscos na produção.

A substituição do milho na composição da ração será um aprendizado para todos, inclusive para as indústrias, que terão de avaliar o teor proteico dos diversos produtos. O trigo pode substituir em 100% o milho na ração para aves, mas apenas 80% na de suínos.

Luz diz que é preciso colocar o Rio Grande do Sul novamente em uma rota de crescimento. Enquanto algumas regiões já fazem três safras por ano, os gaúchos conseguem apenas 1,09. É preciso tirar o medo dos produtores, ocasionado por frustrações do passado, diz ele.

A produção de proteína animal está migrando para outros estados. Para o economista, a metade norte do estado deverá elevar a produção de grãos, enquanto a metade sul poderá incrementar a integração lavoura, pecuária e floresta.

O aproveitamento maior das áreas de inverno elevará o faturamento da agropecuária do estado de R$ 74 bilhões para R$ 86 bilhões.

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