Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Safra de grãos será recorde, mas pressão sobre os alimentos continua

Conab prevê 290 milhões de toneladas para 2021/22; setor privado espera ainda mais

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O movimento das máquinas agrícolas no campo está prestes a tomar um ritmo acelerado. O resultado do plantio deste ano será uma safra recorde de grãos, que deverá ficar em 290 milhões de toneladas no período 2021/22.

Dependendo das condições do clima e da produtividade, no entanto, esse volume poderá atingir até 302 milhões de toneladas. Os dados são da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).

Os números do governo, porém, podem estar subestimados, segundo algumas consultorias privadas. A produção de milho da próxima safra é prevista em 116 milhões de toneladas pela Conab.

Colheita de soja em Mato Grosso; estado é responsável por 10,2% da produção mundial
Colheita de soja em Mato Grosso; estado é responsável por 10,2% da produção mundial - Secom - 30.mar.2021

Já André Pessôa, da Agroconsult, consultoria que acompanha anualmente lavouras em 1.700 propriedades com o Rally da Safra do milho e da soja, estima uma produção de 124,5 milhões de toneladas para o período 2021/22.

A produção de soja, cuja área de plantio deverá ser de 39,9 milhões de hectares, também poderá ser ainda maior do que os 141,3 milhões de toneladas esperados pela Conab. Na avaliação da Agroconsult, a área atingirá 40,3 milhões de hectares.

Guilherme Bellotti, do Itaú BBA, também acredita em números maiores. O banco espera uma área para algodão superior ao 1,55 milhão de hectares estimado pela Conab. A instituição financeira prevê, ainda, uma produtividade melhor para o milho.

Sérgio De Zen, da Conab, não descarta um volume maior na safra de grãos. “Procuramos ser bastante conservadores nas projeções porque os modelos que temos ainda estão em desenvolvimento”, afirma.

Para Andy Duff, do Rabobank, os novos volumes da produção têm mercado garantido. A demanda externa se mantém robusta, principalmente devido à necessidade da produção de ração pela China, que está remodelando sua forma de criação de suínos.

Ele acredita que os preços continuem firmes porque os estoques mundiais de grãos estão baixos, e há uma preocupação com a produção de vários estados dos Estados Unidos, afetados por seca.

No setor da pecuária, Duff não vê queda nos preços, principalmente devido aos sinais de aperto na oferta de gado no Brasil, nos Estados Unidos e na Austrália.

A produção recorde de grãos no Brasil não salva o país, no entanto, de preços elevados dos alimentos. José Ronaldo Souza, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), não vê saltos nos preços do próximo ano, em relação aos deste.

A manutenção da demanda externa e do câmbio elevados, no entanto, vai afetar a renda dos consumidores nacionais, principalmente se não houver uma recuperação do mercado de trabalho.

A queda na produção de milho, provocada por seca e geadas, fez o Ipea rever para baixo a variação do PIB agropecuário deste ano. Prevista anteriormente em 2,7%, a taxa deverá ficar em 1,7%.

Souza atribui essa redução também ao cenário pouco favorável da bovinocultura.

Para 2022, devido às previsões de volumes maiores na produção de grãos, a instituição estima uma evolução de 3,3% no PIB do setor.

Bruno Lucchi, da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), diz que as perspectivas do volume de produção são boas, mas as condições de produção nem tanto.

A crise hídrica vai afetar a produção irrigada, e a La Niña poderá abalar o caixa dos produtores. Além de problemas logísticos nas exportações, a conjuntura interna não se apresenta favorável aos produtores.

As discussões sobre reformas e sobre eleições afetam o câmbio, que aumenta custos de produção e retarda a retomada econômica.

Um dos desafios é a busca de uma eficiência no seguro rural, com produtos melhores e mais acessíveis, segundo Lucchi.

Pessôa, da Agrocunsult, diz que a próxima safra será um período em que os preços recebidos pelos produtores vão descer alguns degraus da escada. Já os custos vão para os de cima.

Para Duff, do Rabobank, é hora de gerenciamento de risco por parte dos produtores. Não basta olhar apenas no curto prazo, mas no longo. A gestão de longo prazo é essencial para que o produtor mantenha a sustentabilidade de seu negócio.

Guilherme Bastos, da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, afirma que é hora de o produtor comprar bem seus insumos e buscar preços melhores para seus produtos. Isso serve para aliviar custos e manter receitas.

Este é um dos momentos mais delicados para o produtor, segundo Bellotti, do Itaú BBA. Há a ameaça do clima, e os custos elevados de produção devem persistir.

Os números da Conab, como vem ocorrendo nos anos recentes, mostram um bom desempenho da produção voltada para as exportações.

A produção de itens básicos, como o arroz e o feijão, fica praticamente estável na próxima safra. A produção total de grãos deste ano, devidos aos efeitos da seca e das geadas, recuou para 254 milhões de toneladas. Chegou a ser prevista em até 274 milhões.

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