Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Vaivém das Commodities
Descrição de chapéu inflação

Seca e geada afetam produção de grãos, e pressão sobre inflação vai persistir

Área de cultivo aumentou, mas país vai produzir 254 milhões de toneladas, 20 milhões a menos do que o potencial previsto

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O estrago provocado pela seca e pela geada na safra brasileira de inverno começa a aparecer de forma mais intensa nos números oficiais da produção agrícola brasileira.

Nesta terça-feira (10), a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) divulgou novos dados e, agora, prevê uma safra de grãos de 254 milhões de toneladas, um número bem distante dos 274 milhões estimados em abril.

Essa queda de 20 milhões e a não confirmação de uma safra recorde, esta prevista após o aumento de área semeada, ocorrem devido aos efeitos climáticos adversos ainda em 2020.

O resultado dessa queda será uma continuidade da pressão nos preços internos, tanto para usuários dessas matérias-primas —indústrias e cadeia de proteínas—, como para os consumidores finais.

O feijão, um alimento básico no dia a dia do brasileiro, terminará o ano com estoques finais suficientes para apenas 16 dias de consumo. No caso do milho, considerados os dados atuais da Conab, o consumo daria para apenas 26 dias.

Arroz e trigo, com a recuperação da produção, terão números um pouco mais folgados. No primeiro caso, os estoques no final da safra serão suficientes para 79 dias. No segundo, para 53 dias.

A oferta menor de grãos no mercado interno e a elevação dos custos nas importações, devido ao dólar e à alta de preços das commodities no mundo, tornam o cenário inflacionário ainda mais incerto no país.

O câmbio, favorecendo as exportações e inibindo as importações, também é um fator de pressão sobre os preços internos. Nos sete primeiros meses deste ano, as compras externas de milho já atingem 1,1 milhão de toneladas, o maior volume em duas décadas para esse período do ano. Os gastos somam US$ 1,2 bilhão.

A principal queda na produção deste ano é a do milho, um cereal que ganha importância cada vez maior no mercado interno, devido à crescente produção e exportação de carnes brasileiras.

Com preços favoráveis, devido às demandas interna e externa, a área de plantio de milho cresceu 7% na safra 2020/21. A produção total do país deverá ser, no entanto, de apenas 86,7 milhões de toneladas, bem distante dos 109 milhões estimados em abril.

A safrinha foi a responsável por essa queda. Prevista em 82,8 milhões de toneladas em março, deverá atingir apenas 60,3 milhões, conforme os dados da Conab desta terça-feira.

Consultorias especializadas estimam volumes ainda menores do que os da Conab. A AgRural prevê uma safra de 56,2 milhões de toneladas, e a Stonex, de 59,7 milhões. Já a Agroconsult espera 60,9 milhões.

Os entraves à produção de milho começaram no ano passado. O plantio da soja foi retardado, e esse atraso levou a colheita da oleaginosa para além do período ideal do plantio do cereal, que sucede a soja. Isso afetou a produtividade do milho, agravada ainda mais por uma estiagem acentuada.

Para complicar, a safrinha foi afetada por uma sequência de geadas, que comprometeram ainda mais o rendimento da cultura. “Foi um ano de tempestade perfeita”, diz Sergio De Zen, diretor de política agrícola e de informação da Conab.

Para Maurício Lopes, gerente de acompanhamento de safras da Conab, além do problema quantitativo, o milho prejudicado pela seca e pelas geadas traz ainda uma queda no valor qualitativo, com parte da produção fora de padrão.

A geada afetou ainda a produção de trigo, mas o volume esperado é de uma boa safra. Com o aumento de 15,1% na área semeada, que atingiu 2,7 milhões de hectares, a produção do cereal deverá atingir 8,6 milhões de toneladas, 38% a mais do que no ano passado. Os efeitos da geada sobre a produção ainda estão sendo avaliados.

A safra de feijão também foi afetada pelas condições climáticas deste ano. Mesmo com um pequeno aumento da área semeada, a produção deverá recuar para 2,9 milhões de toneladas, 9% a menos do que a de 2020.

A queda de produção de grãos no Brasil não tem efeitos apenas internamente, uma vez que o país é um grande participante do mercado internacional.

Para De Zen, há um efeito multiplicador. Ele lembra que os 20 milhões de toneladas de redução na produção brasileira de milho são 6% da produção dos Estados Unidos e acima de 40% da da Argentina.

Essa queda, segundo ele, ajuda à manutenção da inflação dos alimentos no mundo, principalmente em um período de final de pandemia e de novos padrões de consumo.

Entre os pontos positivos dessa safra, apesar do ano atípico, estão as boas evoluções das safras de arroz e de soja, com alta de 5% e 9%, respectivamente.

5G à porta A Embrapa Soja será palco de demonstrações de soluções tecnológicas para o agronegócio, advindas da tecnologia 5G. O evento ocorrerá em Londrina (PR) nesta quinta-feira (12) e terá a participação também da Nokia e da operadora Sercomtel.

Projeto-piloto A iniciativa faz parte da série de projetos-piloto de conectividade 5G, promovidos pelo Ministério das Comunicações, e terá a participação de Fábio Faria, ministro da pasta, e de Tereza Cristina, da Agricultura.

Iniciativas Durante a atividade, serão mostradas soluções em desenvolvimento, assim como iniciativas que já estão disponíveis e serão melhoradas pela qualidade da conexão 5G no campo.

Tempo real Serão realizadas demonstrações envolvendo consultas veterinárias remotas, máquinas conectadas gerando insights para decisão em tempo real e otimização de processos, a partir da agricultura digital.

Suporte O objetivo é apontar como ocorrerá o uso de análise de dados, ampliando o suporte ao produtor brasileiro na redução de custos e no ganho de competitividade e de produtividade. Esse aumento é possível com a utilização de menos área cultivada e com auxílio de drones, chips e GPS.

Rede Para divulgar as aplicações, a Embrapa Soja acionou sua rede de parceiros vinculados ao ecossistema de inovação de Londrina (Agrovalley) e as startups que participam do programa “Soja Open Innovation”, com projetos em codesenvolvimento de soluções de inovação.

Café As exportações brasileiras de café somaram 2,8 milhões de sacas em julho, primeiro mês do ano safra 2021/22. O volume registra queda de 12,8% em comparação a igual mês de 2020, segundo o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil).

Preços O índice de preços recebidos pelos agricultores paulistas subiu 9,2% em julho, segundo IEA (Instituto de Economia Agrícola). As geadas fizeram com que 12 dos 18 produtos pesquisados tivessem alta no período.

Cana Produtividade da lavoura e qualidade da matéria-prima foram afetadas pelas recentes geadas. A colheita em áreas afetadas apontou impacto de 5 toneladas por hectare e piora na qualidade da cana processada em julho, segundo a Unica.

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