Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Vaivém das Commodities

Aumenta o desembarque do agro do governo de Bolsonaro

Produtores continuam fiéis, mas outros setores do agronegócio já não se alinham com o governo

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“O melhor presidente é o que está no momento.” A máxima, muito conhecida no meio agrícola, vem sendo afrontada pelas estripulias de Jair Bolsonaro, que esbraveja, se opõe a tudo e, no frigir dos ovos, se socorre no apoio do agronegócio. Este, porém, dá mostras de estar perdendo a paciência.

O setor do agro é amplo e diverso. O apoio, bastante forte, que deu ao presidente nas eleições de 2018 se esfarela cada vez mais, dependendo da atividade dentro do agronegócio.

Entre os que estão dentro da porteira, os produtores, Bolsonaro ainda tem uma base de sustentação, mas, mesmo nesse grupo, já há desistências. Os grandes, tanto da pecuária como da agricultura, deixaram o barco.

Já os que atuam fora da porteira, como os setores de logística, industrialização e comércio externo, perceberam logo cedo que tudo não passava de ação política, sem uma condução concreta dos seus problemas.

Essa parcela do agro ficou desconfiada logo no início de governo, quando o presidente pôs em perigo os principais mercados de escoamento de produtos brasileiros.

As implicâncias políticas com a China obrigaram o vice-presidente Hamilton Mourão e a ministra da Agricultura, Teresa Cristina, a apagar os incêndios.

A obsessão pela mudança da embaixada em Israel trouxe insegurança nas negociações com os árabes; a implicância da família do presidente com o Irã fez esfriarem as negociações com um dos principias parceiros do agronegócio brasileiro.

O presidente foi perdendo ainda mais a confiança quando se indispôs com europeus por causa dos incêndios, dos desmatamentos e dos roubos de madeiras na Amazônia.

Com uma atuação firme dos órgãos do governo, toda essa ação de criminosos seria resolvida facilmente, segundo os próprios produtores. O governo preferiu, no entanto, desmontar a máquina de controle e peitar o mercado externo.

Quando se trata da melhoria do ambiente dos negócios para o agronegócio, Bolsonaro e seu governo prometeram muito, mas entregaram pouco, segundo um empresário do setor.

A área mais recente a elevar o descontentamento com a linha populista do governo foi a de geração de combustíveis renováveis.

Na avaliação de um participante desse setor, o presidente obstrui os caminhos já construídos apenas para segurar preços artificialmente e beneficiar apoiadores. É o que ocorre com o diesel.

Bastante diferenciado na utilização de combustíveis renováveis na matriz energética, o país está dando um passo atrás, no momento em que o mundo busca meios alternativos para a redução de gases de efeito estufa.

Para controlar os preços do diesel, o governo não só interrompeu o cronograma de adição de biodiesel ao diesel como reduziu o percentual de mistura de 12% para 10%.

Pelo menos 70% do biodiesel provém da soja, que está com preços aquecidos devido à demanda externa pela oleaginosa.

Ações como essa começam a gerar atritos até na base política do governo. A Frente Parlamentar Mista do Biodiesel emitiu uma nota de repúdio ao governo.

Essa medida reduz a industrialização interna da soja, eleva o volume de exportações da matéria-prima, retrocede na limpeza da matriz energética do país e reduz o mercado de trabalho.

O mesmo cenário ocorreria com uma possível redução da mistura do percentual de 27% do etanol anidro na gasolina, que começa a ser aventada.

A seca reduziu a produtividade dos canaviais, diminuindo a oferta de etanol e de açúcar e elevando os preços. Esse efeito sanfona de inconstância das taxas de mistura desestabiliza os setores, retirando a previsibilidade.

O desembarque do agronegócio do atual governo começa a tomar corpo, e a busca pela terceira via fica mais evidente.

Foi o tema das discussões em jantar nesta segunda-feira (13), em São Paulo, com participantes dos setores industrial, mercado financeiro e agronegócio.

Quanto aos produtores, hoje a maior base de apoio ao presidente, o cenário, até agora extremamente favorável, pode mudar no próximo ano.

O plantio está sendo feito com custos bem mais elevados do que nas safras anteriores, e os preços internacionais das commodities estão cedendo.

A renda no campo vai depender basicamente do câmbio, que continuará elevado se Bolsonaro mantiver os ataques constantes aos demais Poderes. Sem renda e com economia fraca no próximo ano, parte dos produtores também pode repensar o apoio.

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