Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Vaivém das Commodities
Descrição de chapéu inflação juros

Produtos mais acessíveis à classe de baixa renda têm reajustes maiores

Campo continua dando forte contribuição para aumento da inflação

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Embora outros fatores tenham entrado na lista de pressões sobre a inflação, como energia e gasolina, o campo ainda continua dando uma forte contribuição.

Ao contrário do que ocorre normalmente nos meses de agosto e de setembro, os aumento médios dos alimentos têm sido recordes nos dois últimos anos neste período.

Em 2021, a alta do grupo alimentação atingiu 3,7% no bimestre, uma taxa não registrada nem na crise de alimentos em 2012. No mesmo bimestre daquele ano, a inflação do setor ficou em 2,84%, conforme dados da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).

Feira no Rio de Janeiro - Ricardo Moraes - 2.set.2021/Reuters

O campo, que tem ajudado a levar a inflação atual para uma taxa próxima de dois dígitos, não dará muito alívio nos próximos meses.

Os preços das commodities continuam em patamares recordes internamente, e os produtos que iniciaram tendência de baixa, como arroz e milho, ainda se mantêm em níveis elevados, em relação à média histórica.

As causas dos aumentos de preços não são recentes. Demanda externa intensa e real desvalorizado são fortes incentivos às exportações. Com isso, o país traz para dentro a pressão dos preços internacionais dos alimentos.

Mais recentemente, porém, um novo fator de elevação foi acrescentado aos produtos brasileiros: o efeito clima. Seca e geadas, acrescentadas à demanda externa, elevaram os preços internos para um degrau recorde. Isso reflete nos preços ao consumidor.

A população de menor renda tem sido afetada ainda mais do que a de maior poder aquisitivo. Os produtos mais consumidos pela população de menor renda têm tido reajustes com taxas maiores.

Dados desta segunda (4) da Fipe indicam que a carne bovina subiu, em média, 28,7% nos últimos 12 meses terminados em setembro. As carnes mais nobres, como a picanha, tiveram elevação de 20%, enquanto músculo, coxão duro e fígado subiram acima de 32% no mesmo período.

Carne seca, salsicha, farinha de milho e outros produtos mais populares estão com reajustes acima da inflação média dos alimentos do período.

Os dados da Fipe, referentes a setembro e que mostram os preços no município de São Paulo, apontam que alguns produtos vindos do campo, e essenciais para os consumidores no dia a dia, continuam pesando muito na hora da compra. Outros começam a ser incorporados nos gastos a partir de agora.

O óleo de soja, embora já tenha registrado evolução maior nos meses anteriores, ainda acumula aumento de 36% nos últimos 12 meses, devido à manutenção dos preços da soja no campo.

Café e açúcar são dois novos componentes de pressão que vieram para ficar. Em ambos os casos, seca e geada provocaram perda da produtividade e devem complicar também a safra de 2022. O açúcar teve uma alta acumulada de 54,2% nos últimos 12 meses. O etanol, de 65%.

O café em pó, devido ao recorde de preços na lavoura, registrou alta de 5,6% no mês passado, acumulando 31,4% desde outubro de 2020.

O aumento dos preços dos alimentos força parte da população a buscar novas alternativas. Com orçamento curto, no entanto, o consumidor vai encontrar dificuldades também nessa troca.

A carne de frango, substituta da bovina, teve alta de 49,9% nos últimos 12 meses. O ovo, a proteína mais barata da cadeia, tem alta de 18,6%, segundo a Fipe.

Pesquisa do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) mostra que a maioria dos produtos agrícolas mantêm preços recordes no campo. Houve ajustes para baixo de alguns deles, mas os valores ainda estão acima da média histórica.

Preços elevados no campo, somados aos custos maiores das indústrias com energia elétrica e transportes, devem tornar os alimentos industrializados ainda mais caros.

Ciência e legalidade

A CNA entrega ao governo nesta terça-feira (5) o posicionamento do setor sobre a COP 26, em Glasgow. O documento reitera o compromisso do produtor rural com a redução das emissões, mas pede que a comunidade internacional reconheça os esforços já realizados pelo setor.

A CNA destaca cinco temas como relevantes. Um é o mercado de carbono, que deverá ter regras claras, ser prático e viável. Já o Acordo de Paris reconheceu que a agropecuária é parte da solução para mitigação dos efeitos do clima. Por isso, a CNA recomenda a criação de um plano visando a implementação das ações.

Outro ponto é sobre a necessidade de os maiores emissores financiarem as ações de mitigação e adaptação. Para a CNA, as ações de adaptação e de mitigação podem ser incentivadas também por meio de recursos de fundos, com adoção de tecnologias, boas práticas e assistência técnica.

A entidade salienta ainda que a produção e preservação devem ser pautadas pela ciência e pela legalidade. Afirma que o novo código florestal é um instrumento normativo.

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