Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Descrição de chapéu Ásia inflação

Carne bovina tem a menor exportação desde a greve dos caminhoneiros

Venda externa recua para 82 mil toneladas, o menor volume desde junho de 2018

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As exportações de carne bovina "in natura" de outubro recuaram para o menor volume em 40 meses. Foram apenas 82 mil toneladas, 56% a menos do que as 187 mil de setembro.

Desde a greve dos caminhoneiros, em 2018, que refletiu nas exportações de junho daquele ano, o país não tinha um volume inferior a 100 mil toneladas por mês nas vendas externas.

Apesar desse recuo, se o ritmo de vendas voltar ao normal nesses dois últimos meses do ano, o volume de 2021 ficará próximo ao de 2020, que foi de 1,73 milhão de toneladas.

Essa queda nas exportações de carne bovina se deve à demora da China em retornar ao mercado brasileiro. O governo brasileiro suspendeu as exportações para o mercado chinês, em setembro, após a ocorrência de dois casos atípicos de vaca louca.

A decisão de retomar as importações, agora, é dos chineses. Bem abastecidos, após compras recordes neste ano, eles estão à espera de uma retração nos preços internacionais da carne.

A queda já ocorre. No mês passado, o valor médio da tonelada de carne "in natura" exportada pelo Brasil recuou para US$ 5.160, com queda de 11% em relação aos US$ 5.790 de setembro.

A ausência da China, principal parceira do Brasil nesse setor, também refletiu nos preços internos do boi, provocando uma forte retração. Na segunda quinzena de julho, a arroba chegou a ser negociada a R$ 322 no estado de São Paulo, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). No final do mês passado, recuou para R$ 254.

O ritmo acelerado de compra de carne pela China no mercado brasileiro vinha provocando uma alta acentuada nos preços internos de todas as proteínas nos últimos meses.

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Carne brasileira em supermercado de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos; ao lado de frango e açúcar, a carne bovina corresponde a 77% do que Brasil exporta aos Emirados Árabes - Ana Estela de Sousa Pinto - 23.out.2019/Folhapress

A carne bovina foi um dos destaques nesse aumento e afastou os consumidores nacionais do produto. Agora, com a queda do valor da arroba do boi e do volume das exportações, a carne bovina começa a recuar também no varejo.

Os dados desta quarta-feira (3) da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) apontam uma retração de 0,79% nos preços médios de outubro. Mesmo assim, a carne bovina mantém alta acumulada de 22% em 12 meses.

Para trazer de volta os consumidores, o varejo promoveu baixas nos produtos de menor valor, como músculo, paleta e acém. Esse recuo superou 3% em outubro.

As carnes mais nobres, como picanha e filé mignon, consumidas principalmente pela população com maior poder aquisitivo neste período de baixa da renda média nacional, ainda estão em ritmo de alta, segundo a Fipe.

As exportações acumuladas de carne bovina "in natura", excluídos produtos industrializados e miúdos, somam 1,35 milhão de toneladas neste ano, 4% abaixo do valor de igual período de 2020.

As compras de proteínas pela China no mercado do Brasil aumentaram com intensidade a partir de 2018, quando o país asiático sentiu os efeitos da peste suína africana em seu rebanho de suínos.

Naquele ano, as exportações brasileiras totais de carne bovina "in natura" atingiram 1,35 milhão de toneladas. No ano passado, somaram 1,73 milhão.

A China deverá vir com um apetite menor no mercado mundial de proteínas a partir de agora. O país ainda tem problemas com a peste suína africana, mas o rebanho de suínos está sendo reconstituído.

A produção dessa carne, que normalmente é de 55 milhões de toneladas por ano no país, chegou a recuar para um volume próximo de 40 milhões, devido à doença.

Os chineses aceleraram também a produção de frango, e devem depender menos do mercado internacional. No caso da carne bovina, porém, eles têm pouco espaço para crescer.

Esse é um dos gargalos para o país, uma vez que aumenta o número de consumidores com mais renda e que incorporaram essa proteína na alimentação do dia a dia.

A queda no preço médio da carne bovina no varejo nacional influenciou também as demais proteínas, que vêm ocupando o espaço da carne de boi, devido aos seus elevados preços.

O frango, que teve alta de 7,3% no varejo, em setembro, registrou aumento de 1,3% no mês passado. Já carne suína, que também estava em alta, caiu 1% no período.

Com a queda das exportações de outubro para 82 mil toneladas, o país arrecadou apenas US$ 425 milhões em outubro, 37% menos do que em setembro.

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