Mesmo com a notícia do retorno da China ao mercado brasileiro, a arroba de boi gordo teve redução nesta quarta-feira (15), caindo para R$ 308. No dia anterior havia sido negociada em R$ 310,4.
Segundo Thiago Bernardino de Carvalho, pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), a queda da arroba ocorre porque o atacado não consegue repassar preços para supermercados, e estes para os consumidores.
O repasse ocorre apenas em cortes nobres, mas não em quantidade. Os frigoríficos estão estocados e saem das compras de boi gordo porque não conseguem esse repasse para o varejo.
Dados do Cepea indicam que a chamada carcaça casada, que inclui preços do traseiro, dianteiro e da ponta de agulha, está com recuo de 2,55% neste mês.
Já o valor médio do traseiro, que contém as carnes mais nobres, tem alta de 2,6% no período. No caso do dianteiro, as carnes menos nobres, a queda é de 10,4% no período.
Inflação elevada, patamar atual dos preços da carne bovina e a perda de renda da população não permitem novos reajustes nas proteínas.
Avaliando a ausência da China no mercado do Brasil nos últimos três meses e meio, Maurício Palma Nogueira, diretor da Athenagro e coordenador do Rally da Pecuária, afirma que foi um período de ajuda para os dois países. Eles buscaram novos caminhos.
Ambos viram que a dependência exclusiva de apenas um mercado é perigosa, tanto para o vendedor como para o comprador. A China buscou novos fornecedores, e o Brasil, novos compradores.
Para Ricardo França, superintendente de agronegócios do Santander, a pulverização de mercados é essencial para o país. A dependência de vendas para apenas alguns compradores não é conveniente.
Nogueira diz que essa dependência entre os dois mercados ocorreu porque o Brasil tinha o que a China necessitava neste período de peste suína africana no mercado asiático e de pandemia.
A dependência não é boa, inclusive, para os chineses, afirma Nogueira. Eles ficam muito vulneráveis. Um efeito climático severo no Brasil poderá deixar a China sem fornecedor.
As exportações do Brasil, no entanto, são importantes para um equilíbrio também do mercado interno. Elas dão sustentação entre as ofertas para os mercados interno e externo, segundo o diretor da consultoria.
Nogueira acredita em uma expansão da demanda de proteínas nos próximos anos. As margens devem ficar mais equilibradas com a chegada de startups e de grandes empresas que vão aproveitar as oportunidades desse mercado.
Com isso, toda a cadeia produtiva ganha, e a demanda dos consumidores aumenta, devido à maior oferta e preços mais acessíveis.
E o país tem campo para crescimento da oferta, uma vez que há uma tendência de avanço da produtividade nacional. O Rally da Pecuária, evento que acompanha a pecuária anualmente, detectou que produtores que utilizam tecnologia conseguem um bom avanço.
Em sua décima etapa anual, a expedição do Rally apurou que os produtores acompanhados pelo evento, e que utilizam tecnologia, tiveram um avanço médio da produtividade de 5,7% ao ano na última década. Já a média da pecuária nacional ficou em apenas 2,3%.
Segundo o diretor da Athenagro, os pecuaristas vêm investindo R$ 13 bilhões em produtividade por ano.
Até 2025, devem dobrar esses investimentos, uma vez que o cenário é positivo nesse mercado.
Um dos principais investimentos é em pastagens. O país possui 153 milhões de hectares em uso exclusivo, e 5,9 milhões precisam de reformas. Outros 14 milhões deverão ser recuperados nos próximos anos e 67,5 milhões necessitarão de recuperação em um período de 12 a 48 meses.
A Athenagro traçou alguns cenários entre a pecuária brasileira e as exigências da COP26. No mais otimista, a redução de emissões relativas atingiria 52% por quilo de carne, sendo que as metas globais são de queda nas emissões de 30%.
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