Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Vaivém das Commodities
Descrição de chapéu alimentação

Quebra de safra com chuva e seca vai prolongar inflação dos alimentos

Eventos climáticos reduzem ofertas de feijão, leite, arroz, milho e soja

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A esperada pressão menor dos alimentos no bolso do consumidor não deverá ocorrer nos próximos meses. A seca atual afeta exatamente os produtos que são os mais importantes no dia a dia dos consumidores.

Seca no Sul e excesso de chuva em partes do Sudeste e do Centro-Oeste vão reduzir as ofertas de feijão, leite, arroz, milho e soja. Os produtos que não vão diretamente para a mesa dos consumidores, como soja e milho, pesam na formação dos custos de proteínas e de óleos vegetais.

A inflação do campo começou de forma mais acentuada a partir de 2018. Daquele ano até o fim de 2021, os preços dos alimentos ficaram 43% mais altos para os consumidores, uma taxa superior aos 24,6% da inflação geral do período.

Os dados são da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), que indica uma aceleração também neste início de ano.

Colheita de arroz orgânico em São Jerônimo (RS) no assentamento do MST, maior produtor desse alimento na América Latina
Colheita de arroz orgânico em São Jerônimo (RS) no assentamento do MST, maior produtor desse alimento na América Latina - Divulgação/MST

Na primeira quadrissemana deste mês (dados que incluem preços das últimas três semanas de dezembro e da primeira de janeiro), os alimentos subiram 1,2% na cidade de São Paulo, acima do 0,57% da inflação total do período.

A Fipe considera que, de cada R$ 100 gastos pelos paulistanos com renda de um a dez salários mínimos, R$ 25 são com alimentos. As altas no varejo estão refletindo os aumentos de preços no campo, acelerados após os estragos provocados pelas condições climáticas no país.

O consumidor vai demorar para ter seu poder de compra recuperado. Os produtos agrícolas, à exceção de arroz e de carne suína, estão com patamares recordes de preço no campo. Já as perspectivas de recuperação econômica, e a consequente volta do emprego, estão distantes.

Com a quebra de safra, os estoques finais de alimentos, já projetados com redução para este ano, devem ficar ainda menores. Feijão e milho são os que mais preocupam.

A área de plantio da leguminosa vem perdendo espaço para soja e milho, devido à melhor rentabilidade desses dois. Neste ano, o Paraná, principal produtor de feijão na primeira safra, reduziu a área em 9%, e o estado é um dos que terão queda de produção devido à seca.

Números da Conab, que ainda não apontam o tamanho total do estrago provocado pela seca, indicam um potencial de produção de 988 mil toneladas de feijão nesta primeira safra. Na avaliação do órgão, o potencial da região Sul e dos estados de Minas Gerais e de Goiás, áreas afetadas por seca ou por excesso de chuva, era de 650 mil toneladas.

Os estoques finais, projetados em 239 mil para a safra 2021/22, são 9% inferiores aos da média dos últimos anos. Esse é um produto do qual o país tem dificuldade em formar estoque, e o ajuste da demanda acaba sendo feito pelo preço.

O arroz está entre os poucos produtos que iniciam o ano com preços em queda, em relação a 2021. O excesso de calor no Rio Grande do Sul, principal produtor nacional, no entanto, diminui a oferta de água nos reservatórios e a produtividade esperada não está garantida.

Já os estoques finais de milho estão projetados em 9,6 milhões de toneladas nesta safra, 28% a menos do que se esperava antes do agravamento da seca.

Esses números da Conab ainda não contemplam a redução de produção prevista por assessorias independentes. A quebra nesta safra de verão reduzirá a oferta do cereal no primeiro semestre, uma vez que a safra de inverno —a safrinha, que é a de maior volume— ainda não está semeada.

O Brasil aposta as fichas na safra de inverno, estimada em 86 milhões de toneladas. No ano passado, o volume colhido ficou em apenas 61 milhões, devido a seca e geadas.

Uma nova quebra na safrinha deste ano faria o país ficar, mais uma vez, dependente de importações, além de reduzir a capacidade de exportações. O consumo interno é de 77 milhões de toneladas.

O milho poderá ter outros fatores de alta. As estimativas são de reajuste nos preços do petróleo, o que dá sustentação ao cereal. Pelo menos um terço da produção de milho dos Estados Unidos vai para a produção de etanol. No Brasil, o milho já representa 10% da produção desse combustível.

Além do efeito de alta de preços, devido à quebra de safra, o consumidor interno vai pagar mais pelos alimentos devido à concorrência externa.

A demanda mundial continua acelerada, e a China ainda mantém expectativas de uma boa evolução do PIB (Produto Interno Bruto).

Com isso, os chineses vão continuar levando soja, açúcar e carnes, produtos que já estão em patamares elevados de preços no Brasil em 2022, em relação ao início de 2021.

Além da demanda externa, que provoca alta também nos preços internos, há uma pressão sobre os custos de produção para os agricultores.

Transporte, energia, dólar, juros e dificuldades na obtenção de insumos forçam uma alta dos custos de produção das commodities. Se tiver demanda, esses custos são repassados para os preços.

Os alimentos atingiram um patamar bastante elevado nos últimos anos, o que afasta parte dos consumidores das compras, devido à perda de renda.

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