Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Vaivém das Commodities
Descrição de chapéu clima

Seca eleva saca de soja a R$ 200, e consumidor sofrerá impacto no bolso

Consultorias estimam a safra brasileira entre 125 milhões e 130 milhões de toneladas

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Com a seca, a saca de soja supera, pela primeira vez, R$ 200 na região Sul. Esse preço é reflexo não apenas da prolongada estiagem mas de uma conjugação de fatores.

Boa para os produtores que não foram afetados pela estiagem, e vão obter uma produção regular, essa quebra é ruim para os que foram, já que esta foi uma safra de elevação nos custos de produção.

A alta respinga também sobre o bolso do consumidor, que, mais uma vez, vai sentir a mudança de patamar dos derivados da oleaginosa, principalmente o do óleo de cozinha.

Seca Paraná
Produtor de Sertaneja (PR) avalia efeito da seca na soja - Mauro Zafalon / Folhapress

O IGP-DI desta segunda (7) já aponta essa aceleração. Os produtos agropecuários subiram 2,63% no atacado em janeiro, acumulando 18,1% em 12 meses. A soja saiu de uma alta de 0,9% em dezembro para 5,6% no mês passado.

O aumento da oleaginosa provocou reajuste de 14,1% nos preços do farelo de soja, um componente importante na ração e nos custos da produção de proteína animal.

Daniele Siqueira, analista da AgRural, cita outros fatores de pressão nos preços mundiais. A seca na América do Sul dá sustentação à oleaginosa em Chicago, principal Bolsa internacional de negociação do produto.

O mercado financeiro também impulsiona os preços. Enquanto o banco central dos Estados Unidos não eleva os juros, o investidor busca lucro nas commodities, injetando dinheiro no setor.

A queda do dólar index, uma cesta de moedas, dá suporte aos produtos agrícolas no mercado internacional. No Brasil, o valor do dólar, em relação ao real, também da sustentação às exportações.

A dificuldade brasileira nas exportações, um período em que o país é o principal fornecedor do mercado externo, força o importador a buscar o produto nos Estados Unidos, pressionando ainda mais a Bolsa de Chicago.

Prêmios pagos aos que ainda têm o produto para exportar e o barril de petróleo acima de US$ 90 também seguram os preços das commodities em patamar elevado.

Esta será uma semana de novos números oficiais sobre a quebra de safra, e isso deixa o mercado mais agitado. O Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) divulga um balanço de oferta e demanda nesta quarta-feira (9), enquanto a Conab (Companhia Nacional e Abastecimento) apresenta seus números na quinta-feira (10).

Os preços do mercado já refletem boa parte dessa redução de safra, mas indicações de quebra mais fortes por esses órgãos podem dar novo patamar ao preço da soja.

Os números de redução de produção praticamente já estão dados, segundo Daniele. Os três principais produtores da América do Sul —Brasil, Argentina e Paraguai— deverão perder próximo de 30 milhões
de toneladas, em relação ao potencial inicial de produção.

Várias consultorias estimam a safra brasileira entre 125 milhões e 130 milhões de toneladas. Os dados mais pessimistas, porém, apontam para 120 milhões, um número considerado baixo demais pela analista.

A Argentina, com previsão inicial de 49 milhões de toneladas, deverá colher próximo de 43 milhões. O clima de fevereiro, no entanto, ainda é determinante para a safra do país vizinho.

Já o Paraguai, que esperava 10 milhões de toneladas, deverá obter apenas 5 milhões.

Embora a colheita brasileira tenha um ritmo superior ao da média dos últimos cinco anos, a soja não está chegando aos portos.

O Paraná, terceiro maior produtor nacional, teve quebra de produção. Mato Grosso, principal produtor nacional, mantém uma safra normal, mas está colhendo um produto úmido, devido a chuvas na região. Isso exige um período maior para a secagem, dificultando a ida da oleaginosa para os portos.

A seca provocou uma redução no tamanho do grão, o que significa volume menor por hectare. Muitos produtores afetados pela seca já têm condições de colher a soja, mas aguardam os peritos das seguradoras para avaliação do estrago.

Enquanto estes, já atrasados segundo produtores, não forem às lavouras para a avaliação das perdas e determinação do valor do seguro a ser pago, o produtor não poderá efetivar a colheita.

Daniele acredita que a opção de alguns importadores pela soja americana seja pontual. Enquanto os chineses recebem a soja brasileira por US$ 612 por tonelada, a americana chega ao país por até US$ 649, dependendo do porto de exportação.

Na sexta-feira (4), a saca de soja foi negociada a R$ 203 em Passo Fundo (RS). Há um mês estava em R$ 180. Em Cascavel (PR), fechou a semana em R$ 190, e, em Sorriso (MT), a R$ 172, conforme pesquisa da
AgRural.

Na Bolsa de Chicago, o primeiro contrato terminou a semana passada em US$ 15,54 por bushel (27,2 kg), acima dos US$ 13,79 de há um mês.

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