Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Vaivém das Commodities

Alta de preços agrícolas, incrementada pela guerra, chega a produtos brasileiros

Conflito na Ucrânia pressiona preços do trigo, milho e óleo vegetal

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Os preços internos dos produtos agrícolas, que já vinham em uma escalada de alta nos últimos dois anos, tomaram um novo ritmo de elevação após a invasão da Ucrânia pela Rússia.

O mercado interno está respondendo mais rapidamente à pressão externa dos produtos mais importantes nos dois países envolvidos no conflito. Entre eles estão trigo, milho e óleo vegetal.

Os novos aumentos de preços vão trazer mais pressão para o bolso do consumidor, que já está convivendo com aumentos expressivos de vários itens de consumo diário.

Plantação de trigo em Stavropol, na Rússia - Eduard Korniyenko/Reuters

Lucilio Alves, pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), diz que, em alguns casos, essas altas vão ser incorporadas aos poucos no país, mas vão chegar ao consumidor.

O trigo é um deles. A tonelada do cereal já atinge R$ 1.760 no mercado interno. Na Argentina, o valor subiu para um patamar histórico de US$ 495 por tonelada.

Os preços internos dos derivados ainda refletem os valores dos contratos antigos, afirma o pesquisador. Os novos contratos trarão preços mais aquecidos, que chegarão ao consumidor após passarem por acertos dentro da própria cadeia do trigo.

Esses novos preços, determinados pelo mercado externo, podem provocar, porém, uma mudança na produção interna.

Na avaliação de Alves, o valor aquecido do trigo vai incentivar mais produtores a trocar as plantações "não comerciais" —as coberturas de terra no período de inverno— pela cultura do trigo.

Se isso ocorrer, o país poderá registrar mais um recorde de produção do cereal. Tudo dependerá, no entanto, da disposição de semente e de adubo.

O trigo vem sendo negociado com os patamares máximos permitidos na Bolsa de Chicago. Nesta segunda, o primeiro contrato terminou o dia em US$ 12,94, repetindo a alta de 7% que vem registrando diariamente.

A soja não foi muito afetada, por ora, nesse período de guerra. O produto passa por uma gangorra no mercado internacional, com altas e baixas, embora em patamares elevados de preços.

Internamente, a saca está sendo negociada a R$ 204 em Paranaguá. A procura por óleo de soja, porém, poderá forçar a alta dessa oleaginosa.

A tonelada de óleo de soja está sendo comercializada em um patamar recorde de R$ 9.537, com alta acumulada de 171% nos dois últimos anos no Brasil.

O óleo sobe porque a Ucrânia, grande fornecedora de óleo de girassol, está bloqueada. A Argentina, maior exportadora mundial de óleo de soja, teve quebra de safra. A Indonésia, importante fornecedora de óleo de palma, teve redução na produção.

Com isso aumentou a procura pelo produto norte-americano e brasileiro. O Brasil, devido à seca, tem redução de safra. A produção brasileira de soja, com potencial de 145 milhões de toneladas, deverá ficar em apenas 122,8 milhões, conforme estimativas divulgadas pela AgRural nesta segunda-feira (7).

Alves diz que as incertezas no preço do petróleo também ajudam a manter aquecido o mercado de óleo de soja, um componente importante na produção de biodiesel.

O preço do milho também reage no Brasil, tomando novamente o caminho dos R$ 100 por saca. O difícil acesso do milho ucraniano ao mercado internacional e as incertezas com o plantio nesse país, que terá início em poucas semanas, elevam os preços do cereal na Bolsa de Chicago.

O contrato de maio chegou a ser negociado a US$ 7,80 por bushel (25,4 kg) nesta segunda-feira.

Embora ainda não registre o efeito da guerra da Rússia contra a Ucrânia, a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) já mostra preços recordes nos alimentos, o que deverá manter elevada a taxa de inflação pelo mundo.

Os preços de fevereiro superaram em 24% os de há um ano. Na comparação com janeiro, a alta média dos alimentos foi de 3,9%, com influência dos óleos vegetais, que subiram 8,5%, e do milho, que ficou 5,1% mais caro. O trigo teve elevação de 2,1%.

As carnes aumentaram, em média, 1,1%, mas a bovina registrou preços recordes, devido aumento global de demanda e oferta restrita de gado no Brasil, aponta a pesquisa da FAO. Nos últimos 12 meses, a elevação dessa proteína foi de 15%.

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