Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Vaivém das Commodities

Próximo presidente encontrará uma agricultura em dificuldades

Sem a irrigação financeira do interior, a economia terá ritmo mais lento

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O próximo presidente não vai encontrar uma situação tão confortável no agronegócio como a ocorrida nos anos recentes.

A atividade agrícola deverá perder o ritmo acelerado que vinha tendo, principalmente devido a custos elevados e a dificuldades na obtenção de insumos.

As margens de lucro dos produtores deverão ficar distantes das do ano passado. Em 2018 e em 2019, períodos de baixa inflação, as receitas agrícolas nominais foram de 19% e de 4%, respectivamente. Em 2020 atingiram 48%, subindo para 63% em 2021.

Colheita de cana na Usina São Martinho, em Pradópolis, interior de São Paulo - Foto: Mauro Zafalon - 14.nov.2018/Folhapress

Os números são da Consultoria MacroSector, cujo diretor, Fábio Silveira, prevê um patamar bem menor de receitas neste ano. Essa queda de liquidez vai impactar também as lavouras de 2023.

As receitas menores no campo, segmento que tem alimentado a economia brasileira, ocorre exatamente em um momento que a economia global passa por um realinhamento, segundo Silveira.

Após uma pandemia, que desacelerou as economias e reduziu a oferta mundial de insumos e de componentes industriais, vem uma guerra, que realinhará novas alianças comerciais.

Nesse novo mundo que está se desenhando, o fluxo do petróleo é um dos principais componentes em jogo. E ele é importante para a agricultura. Além disso, a guerra afeta países tradicionais no fornecimento de grãos.

Ao excelente desempenho do setor agropecuário em 2021, segue-se uma série de dificuldades a partir de agora.

Elas passam por quebra no ritmo normal da oferta de petróleo, restrição no fornecimento e no transporte de fertilizantes, dificuldade na oferta de agroquímicos, preços elevados em toda a cadeia agrícola, além de outros riscos, avalia Silveira.

A economia brasileira, que teve uma indústria na lona e um setor de serviços com pouco crescimento, mas um agronegócio vibrante nos últimos anos, poderá ver também a agropecuária patinar a partir de agora.

O biênio 2022/23 certamente será bem mais modesto no agronegócio do que foi nos anos anteriores. Além de problemas no fornecimento e nos preços dos insumos, o setor terá dificuldades no financiamento. O crédito está ficando caro.

Para Silveira, a grande questão é quando e como vão chegar os fertilizantes para o início de plantio da safra 2022/23.

Com um peso muito grande no custo de produção agrícola, ficando próximo de 30%, dependendo do produto, os fertilizantes já vinham subindo nos últimos meses, mas agora terão impacto ainda maior apos a invasão da Ucrânia pela Rússia.

A MacroSector acompanhou a relação de troca nos últimos 12 meses e, em alguns casos, essa relação ficou extremamente desfavorável ao agricultor.

Em janeiro de 2021, com 12,2 sacas de soja os produtores adquiriam uma tonelada de fertilizante com os nutrientes específicos para essa cultura. No mesmo mês deste ano, eram necessárias 26,6 sacas, 118% a mais, segundo a consultoria.

À exceção do café, todos os principais produtos agrícolas perderam nessa relação. O café teve ganhos porque os preços da commodity dispararam, devido a geadas e quebra de safra no Brasil, principal produtor mundial.

No caso da cana-de-açúcar, também houve uma deterioração na relação de troca, mas com um percentual menor do que o dos demais produtos. Um dos principais pesos no custo da cana, no entanto, é o diesel, que vem refletindo a alta do petróleo.

O exemplo mais gritante na perda de relação encontrada pela MacroSector foi a do arroz. Em janeiro do ano passado, os orizicultores entregavam 15,9 sacas do cereal por uma tonelada de fertilizante. Neste ano, foram 54,4, com aumento de 242%.


Soja A Agriconsult, ao divulgar os números finais da safra 2021/22, estimou uma produção de 124,6 milhões de toneladas, acima dos dados da Conab, que são de 122,8 milhões.

Explicações A consultoria prevê uma produção maior porque estima uma área de plantio menor para Rio Grande do Sul do que a esperada pela Conab.

Quebra Neste estado, a quebra foi grande. Já para Goiás, onde a produtividade foi recorde, a Agriconsult prevê uma área acima da prevista pela Conab.

Maior e menor A produtividade de soja do Rio Grande do Sul é de apenas 25,4 sacas por hectare. Já a de Goiás atinge 66,3 sacas.

Safrinha A área da segunda safra de milho deverá subir para 15,7 milhões de hectares, com potencial de 92,2 milhões de toneladas de grãos, conforme estimativa da Agriconsult.

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