Na Copa de 2014, fui na contramão do engarrafamento mundial. Enquanto todos vinham ou sonhavam vir para o Brasil, eu desembarcava em Zagreb, no mesmo dia do primeiro jogo da seleção brasileira. Para quem não lembra, a estreia da seleção canarinho foi contra a Croácia. Fui com o intuito de percorrer a antiga Iugoslávia, reordenada após a terrível guerra fratricida dos anos 1990.
Os brasileiros estavam temerosos com a organização da Copa, com um descontentamento que prometia paralisar tudo. Mas, de fato, o que ocorreu foi que nos rejubilamos em receber turistas do mundo inteiro e encontramos o costumeiro jeito surreal de conciliar, de um lado reivindicações sociais e quebra-quebra, e de outro a costumeira hospitalidade.
O jogo era esperadíssimo pelos croatas, não só porque veriam seu time mas também, é claro, porque o veriam jogar contra o Brasil. Saímos do hotel vestidos com a camisa amarela da seleção. Com o símbolo da CBF, eu sei.
Começado o jogo, até uma torcedora desavisada como eu sabia que a apresentação do Brasil estava sendo um fiasco. No intervalo da partida --e acusando elevado teor alcoólico--, sugeri que fôssemos assistir ao segundo tempo fora da praça central. Seguimos aquele calvário de olhares estrangeiros, um ou outro brasileiro fingindo animação e os croatas comemorando a aflição que causavam ao Brasil.
Já bem distante do centro, avistei um minúsculo bar, lotado de homens devidamente uniformizados com a camisa da seleção croata, medindo em média 1,95 m e cantando a plenos pulmões.
A música da Copa na Croácia era contagiante. Pena que não entendíamos uma palavra. Resolvi entrar. Meu marido perguntou se eu entendia que, havendo briga, ele que iria apanhar! Nem respondi --viva o machismo!
Entrando no bar, que devia ter uns 20 metros quadrados e se resumia a um balcão, a rapaziada literalmente parou. Por que vocês estão vestindo isso, nos perguntou um rapaz, que parecia ter bebido quase tanto quanto nós. Somos brasileiros, respondi, entregando ao destino o desfecho dessa noite. Fomos imediatamente atacados por uma turma eufórica, que nos abraçava tirando do chão, beijava e fotografava de todo jeito.
O maior risco que corremos foi o de quebrarem nossas costelas nos abraços mais animados ou de sairmos sem a camisa da seleção, almejadíssima por todos. E foi por pouco.
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