Pablo Ortellado
Nesta semana, alguns influenciadores denunciaram que teriam sido contatados por uma agência para receber dinheiro para fazer postagens nas redes sociais apoiando candidatos do PT.
Segundo a denúncia, os influenciadores foram abordados pela agência para se engajar, por dois meses, em campanhas "progressistas", recebendo valores de até R$ 2.000 para publicar conteúdos sugeridos.
O convite não deixava claro que a ação tinha o objetivo de promover candidatos, embora o período de dois meses coincidisse exatamente com a campanha eleitoral, e o aplicativo por meio do qual se sugeriam as publicações se chamasse "Brasil Feliz de Novo", mesmo lema da campanha do PT à presidência.
Para além da questão jurídica sobre a legalidade da prática, a iniciativa tem efeitos muito nocivos sobre o debate público que ocorre nas mídias sociais.
O fato de contas e perfis com algum destaque terem aceitado receber dinheiro em troca do apoio a causas, mesmo que a princípio não se tratassem de campanhas eleitorais, projeta uma sombra de suspeição sobre a autenticidade de todo debate político nos meios digitais.
Os influenciadores que reconheceram que se dispuseram a receber dinheiro para fazer postagens alegam que a proposta inicial era apenas a de remunerar uma atividade que já fariam de qualquer maneira.
Mas como se vê nas postagens que foram identificadas como tendo sido incitadas pela agência, eles não estavam fazendo o debate livremente, mas reproduzindo os pontos e os principais argumentos sugeridos pelos briefings que eram enviados por quem coordenava a ação.
Além de empobrecer e corromper a esfera pública, a iniciativa ainda reforçou o estigma que a direita impõe à esquerda de que nunca age livremente e que só se move por benefícios espúrios, seja um pão com mortadela ou um apoio da Lei Rouanet.
A acusação da direita é geralmente alucinada e descabida, mas, às vezes, parece que alguns ativistas de esquerda estão empenhados em torná-la verossímil.
Leandro Narloch
Legítimo? É uma tremenda picaretagem pagar ou receber por uma opinião favorável a um candidato. Não há nada mais rasteiro no jornalismo que matéria paga e publicidade camuflada de notícia ou opinião. É coisa de intelectual bolivariano, de blogueirinhas de moda e de jornalista jabazeiro, aquele que se vende por brindes ou viagens.
O Manual de Redação da Folha deixa isso claro. Proíbe seus jornalistas de "aceitar valores ou favores pessoais para publicar ou omitir uma notícia". Também os obriga a alegar impedimento em casos de conflito de interesse. O repórter deve avisar os chefes se, por exemplo, é da família de envolvidos na reportagem e até mesmo se tiver ações da empresa tema de uma notícia. Não é paranoia da Folha impor essas regras --e sim preocupação com um mínimo de seriedade intelectual (não só jornalística).
Vamos supor que a propaganda disfarçada de opinião não fosse proibida pelo TSE (nem acho que deveria ser). Ainda assim, o episódio do mensalinho do Twitter seria motivo de constrangimento para os envolvidos, pois é óbvio que a atitude não foi transparente.
Há nuances nessa conduta. Anos atrás, antipetistas acusaram o blogueiro Leonardo Sakamoto de ganhar dinheiro do governo Dilma para defendê-la na internet. Me pareceu injusto: quero acreditar que Sakamoto daria opinião favorável a Dilma mesmo se sua ONG não tivesse contratos com o governo.
Da mesma forma, não dá para desprezar os argumentos de cientistas que de vez em quando lucram com palestras ao agronegócio. Nem todos eles dão opinião sob encomenda: apenas são contratados para divulgar uma opinião que já possuíam. Mesmo nesses casos, no entanto, uma declaração de conflito de interesses cai muito bem.
É possível extrair uma boa notícia do escândalo dos influenciadores digitais a serviço do PT. A farsa surgiu no Twitter e foi revelada no próprio Twitter. Não foram as autoridades que a denunciaram, e sim os próprios leitores. Esta é a beleza de um mundo livre: o indivíduo tem direito de falar e se vender como quiser, mas os outros têm toda a liberdade de ridicularizá-lo.
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