Vinicius Mota

Secretário de Redação da Folha, foi editor de Opinião. É mestre em sociologia pela USP.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Vinicius Mota

Botsuana vê o Brasil pelo retrovisor

Crédito: Eduardo Knapp/Folhapress
Instalações de hotel de luxo na cidade de Kasane, na Botsuana

SÃO PAULO - Não há grande mistério na fórmula que faz um país pobre progredir para um nível remediado de renda. Basta uma certa dose de centralização política, não importando sob qual regime, de urbanização e de tecnologias baratas que derrubam a mortalidade precoce e "voilà".

Por volta de 1980, a grande maioria das populações da Europa e da América havia atingido esse estágio. A Ásia tirou o atraso nas décadas seguintes. A renda média de um asiático está a poucos anos de equiparar-se à de um sul-americano. Há 38 anos, a primeira era 1/4 da segunda.

É provável que tenha chegado a vez da África. Há sinais no continente de avanços sobre duas chagas que costumam perpetuar a pobreza: a fragmentação granular do poder político e uma epidemia genocida, como tem sido a Aids para povos ao sul do Saara nas últimas duas décadas.

Chegar é uma coisa, passar é outra, diz o narrador Galvão Bueno. Vale para as corridas de carro, vale para a marcha das nações que atingem a renda média. Poucas ao longo da história subiram ao andar de cima, o dos países desenvolvidos.

Na Ásia, a ditadura chinesa desafia o postulado de que só democracias chegam à elite, embora falte percorrer um pedaço longo e arriscado de estrada até lá. Na nossa região, o Chile destoa da geleia geral e deve sagrar-se o primeiro sul-americano desenvolvido na próxima década.

Na África negra, o candidato é Botsuana, que decuplicou o PIB nas últimas quatro décadas. Sua renda per capita, em medida que compara os poderes de compra, ultrapassou a brasileira em 2014 e não vai parar tão cedo de abrir distância.

A pequena nação mediterrânea do sul da África, com 2 milhões de habitantes, pratica versões dos regimes abertos e competitivos na política e na economia em modo estável há 50 anos. O baixo nível da corrupção percebida indica boa adesão ao primado da lei. Lá se foi Botsuana.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.