A Itália, palco de eleição neste domingo (4), parece um teste de laboratório para o postulado de que, na marcha dos séculos, o sucesso de uma nação é o estágio efêmero anterior a uma longa derrocada. No caso italiano, berço e campa do maior império da antiguidade, o raio pode cair duas vezes no mesmo local.
A demografia da península contrasta até mesmo com o padrão da velha Europa. Para cada cem italianos adultos em idade de trabalhar, há hoje 41 na faixa da aposentadoria. O indicador europeu (32) está 22% abaixo; o brasileiro (15), 63%.
Ao longo das próximas décadas, a dependência da população idosa em relação à trabalhadora vai crescer. Em meados do século 21, a ONU estima que um grupo de cem italianos terá de produzir os bens e os serviços para sustentar, além de a si próprio e a seus filhos, 72 de seus compatriotas com 65 anos ou mais de idade.
Na economia política do envelhecimento, a Itália está para a Europa como o Japão para a Ásia. A renda per capita de japoneses e italianos corria colada à média dos países desenvolvidos até o fim do século 20, quando começou a declinar. O Japão, onde a fatia de idosos é ainda maior que na Itália, no entanto perdeu menos.
Na confusão de plataformas deste pleito italiano, com uma mixórdia de novos entrantes, governantes desgastados e oligarcas redivivos, nada parece apontar para arranjos capazes de contra-arrestar os vetores dessa decadência secular.
O salto no bem-estar da humanidade a partir do final do século 19 é tributário do que ocorreu em cidades italianas como Gênova e Veneza alguns séculos antes. Inovações nas regras do comércio ergueram uma floresta de transações e especializações onde antes havia deserto.
Italianos de hoje e de outrora mostram que os acordos entre os homens, a chamada política, podem conduzir toda a sociedade a resultados muito diversos.
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