Vinicius Mota

Secretário de Redação da Folha, foi editor de Opinião. É mestre em sociologia pela USP.

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Os deserdados da globalização elegeram Trump?

Série de pesquisas de qualidade desafia teorias da moda

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante pronunciamento à imprensa, na Casa Branca, sobre cortes de impostos sobre os salários
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante pronunciamento à imprensa, na Casa Branca, sobre cortes de impostos sobre os salários - Kevin Lamarque/Reuters

Se 36 em cada 1.000 britânicos que em 2016 votaram a favor da saída da União Europeia tivessem mudado de opção, o resultado teria sido o oposto. Para a vitória de Hillary Clinton sobre Donald Trump, no mesmo ano, faltou ainda menos.

Os resultados dessas votações, definidos por diferenças irrisórias que na ciência seriam atribuídas a variações naturais, foram concatenados e, associados a outros elementos familiares pinçados a dedo, deram corpo a sombrias narrativas no jardim encantado da paixão política.

A democracia ocidental está tão ameaçada hoje quanto na década de 1930. A globalização deixa uma legião de deserdados que dá o troco e adere a plataformas autoritárias. Gênios do mal manipulam a vontade do eleitor pela internet e mudam o curso de escrutínios nacionais.

Tudo isso faz sentido para a máquina de fabulações que é o cérebro humano e dá conforto diante da angústia que seria encarar a incomunicabilidade das coisas. Quem analisa os dados disponíveis com a melhor técnica, no entanto, acha pouca sustância para tamanhos sobrevoos.

Quem nos EUA perdeu o emprego de 2012 para 2016 não migrou para o candidato republicano. Tampouco o fez quem habitava regiões muito dependentes de empregos industriais.

Viver em área de alta renda —isto é, ser vencedor na globalização— fez subir a chance do voto em Trump, tido como candidato dos excluídos. A tolerância do eleitor médio com a imigração aumentou, ao contrário do que vai implícito nas tais teorias.

Essas conclusões contrárias às explicações da moda foram publicadas há duas semanas por Diana Mutz, da Universidade da Pensilvânia, no periódico da Academia Nacional de Ciências. O trabalho com duas bases de dados independentes produziu resultados bastante parecidos.

A pesquisa de Mutz não é a primeira nem será a última incursão apetrechada a desafiar a cosmologia contemporânea. Para o bem e para o mal, a vida faz bem menos sentido do que costumamos crer.

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