Vinicius Mota

Secretário de Redação da Folha, foi editor de Opinião. É mestre em sociologia pela USP.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Vinicius Mota

Bolsonaro já opera em modo impeachment

Governo fraco faz contas diárias para evitar 342 votos contrários na Câmara

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O então deputado Jair Bolsonaro vota na sessão da Câmara que autorizou o prosseguimento do impeachment de Dilma Rousseff
O então deputado Jair Bolsonaro vota na sessão da Câmara que autorizou o prosseguimento do impeachment de Dilma Rousseff - Alan Marques - 17.abr.2016/Folhapress

Agora são 171 mais 1. A gestão Bolsonaro entrou em modo impeachment, no qual um governo enfraquecido dorme e acorda fazendo e pagando contas para tentar evitar que 342 dos 513 deputados federais acionem a guilhotina presidencial.

Nessa fase, os que afiançam apoio comportam-se como mercenários a oferecer serviços ao chefe da cidade cercada. Cobram horrores, mas, na hora de entregar o prometido, vão fazer o que lhes der na telha, pois também flertam com os sitiadores.

Como aconteceu com Collor e Dilma, Bolsonaro terá de se defender em meio a uma recessão duríssima. Como ocorreu com Dilma e Temer, as flechas virão do Legislativo, do Judiciário e de outros setores da burocracia, o que vai estrangular a margem de manobra do presidente.

Diferentemente dos três antecessores empurrados ao jogo do impeachment, a impopularidade de Bolsonaro não é, na saída, tão pronunciada. O capitão também é o mais displicente de todos nas práticas da articulação partidária e parlamentar.

No Congresso, nunca houve tanta fragmentação. Faltam identidade e apetite pelo poder ao bloco oposicionista. O vice-presidente ainda não conspira com forças que podem derrubar o titular e por isso não se delineia o que seria um governo Mourão.

Uma crise sanitária dissemina incertezas, exige respostas urgentes de atores que estavam fora do foco da atenção nacional e complica o cálculo político. Câmara e Senado talvez só consigam se reunir da forma tradicional no segundo semestre.

Mas o tempo foi cruel com os presidentes obrigados a encarar o xadrez do impeachment. A cada rodada, seus movimentos de defesa abriam um novo flanco, o que os fragilizava mais. No final, quem não perdeu o rei de direito perdeu-o de fato.

Jair Bolsonaro desloca as suas primeiras peças no tabuleiro dos decapitados na condição de único presidente, ao longo dos 35 anos da chamada Nova República, filiado a uma corrente autoritária. Só está jogando porque a democracia até aqui lhe fechou as portas para uma aventura.

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.