Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire

Novo ministro da Fazenda vai ficar largado e sozinho

Coalizão governista, rachada e distraída com negócios da eleição, antipatiza com novo ministro

O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Eduardo Guardia, que deve assumir o cargo de Henrique Meirelles
O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Eduardo Guardia, que deve assumir o cargo de Henrique Meirelles - Silvia Costanti 7.nov.16/Valor/Folhapress

O CONGRESSO tem dado pouca bola para os projetos econômicos de Michel Temer, até porque o núcleo político do governo está ocupado com outros assuntos, mas não apenas por isso. O novo ministro da Fazenda terá vida muito mais dura do que Henrique Meirelles, isso se não for abandonado pelo Planalto 
e ignorado pelos parlamentares.

O novo titular da Fazenda deve ser Eduardo Guardia, ora vice de Meirelles, tido como desafeto da massa média parlamentar, por bons motivos. Goste-se ou não do que pensa Guardia, o hoje ainda secretário-executivo tenta evitar que arrombem as portas da Fazenda.

Haveria problema, porém, com qualquer ministro que tente evitar um barata-voa fiscal e aprovar medidas econômicas, em particular as que limitem o número de cargos de indicação política e aumentem a tributação de empresas e ricos. Guardia parece meio frito, a julgar pelo que se ouve de lideranças na Câmara.

Um deputado diz que a “agenda econômica não desagrada à base [coalizão governista] porque o governo não tem mais base. Rachou tudo por causa da eleição”. O provável novo ministro da Fazenda até poderia contar com a boa vontade de Rodrigo Maia, presidente da Câmara, dizem parlamentares. Isto é, se Maia der um tempo nos assuntos eleitorais, em abril e maio, e não sentir muita rejeição 
aos projetos do governo.

O Congresso estaria fora de controle, pois, e cada voto em cada comissão é ainda mais pensado em termos eleitoreiros, mesmo lunáticos. Há quem chegue a dizer que Guardia é da turma de Geraldo Alckmin, pois o provável ministro foi secretário da Fazenda de São Paulo no início do século. Logo, não se pode dar refresco para um tucano enrustido em ano eleitoral.

Além desses motivos mais dementes, o Congresso tende a barrar medidas da agenda econômica do 
governo porque não quer fazer inimigos e manter negócios, ainda mais em ano eleitoral, o óbvio. Está difícil aprovar a tributação de fundos de investimentos de ricos (ditos “exclusivos”), projeto já quase todo aguado. Deve ter o mesmo destino a reoneração (grosso modo, cobrança maior de contribuições 
previdenciárias patronais).

A reforma das leis das agências reguladoras, um projeto de agrado de Maia, irrita o Congresso porque restringiria a nomeação de políticos para suas diretorias. A privatização da Eletrobras sobe 
cada vez mais alto no telhado.

Outros muitos projetos ficaram estacionados na Casa Civil. Depois da “jogada de mestre” da intervenção no Rio, que enterrou a reforma da Previdência, os incentivos para largar as mudanças econômicas as traças ficaram evidentes. Alguns assuntos devem voltar a andar na “janela” entre as filiações e desincompatibilizações (abril) e as festas juninas. Dois meses e meio, sob má vontade geral.

Guardia não nasceu ontem, claro. Fez carreira longa no serviço público, tendo trabalhado na Fazenda, onde também foi secretário do Tesouro no final dos anos FHC, além de ter auxiliado Alckmin. Antes de voltar ao governo, passou anos na direção da agora B3, ex-BM&F. Mas é um tipo que em Brasília se chama de “técnico” (leva seus assuntos a sério) e, para piorar, “frio” como a recepção que terá no Congresso.

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