Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu Governo Trump

Trump ou Átila, o Huno das redes sociais

Com ataque à China, presidente americano não provoca guerra comercial, mas política

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O presidente Donald Trump mostra documento com imposição de sobretaxas à China
O presidente Donald Trump mostra documento com imposição de sobretaxas à China - Jonathan Ernst/Reuters

DONALD TRUMP parece travar uma guerra imaginária em um show demente qualquer da TV Fox, à procura de votos e "likes" de gente americana tristemente ignorante e muita vez pobre. Mas esses delírios de Nero de BBB ou de Átila, o Huno das redes sociais, são um ataque diplomático grave e grosseiro à China, do qual não se entende o sentido. Isso apenas se parece com uma guerra comercial.

Depois de fazer espetáculo, Trump atenuou o pequeno ataque às importações de aço, inclusive do Brasil. Mesmo que vá adiante nessa aventura chinesa, não vai conseguir nem mesmo que os Estados Unidos importem menos, de outros países.

Trump quer aumentar para 25% o imposto sobre produtos chineses no valor de até US$ 60 bilhões de importações, o equivalente a 12% dos US$ 505 bilhões que os americanos compraram da China em 2017. O objetivo é prejudicar empresas que roubariam tecnologia americana.

Segundo relatos da mídia e consultorias financeiras internacionais, a ideia de fundo seria na verdade prejudicar setores de alta tecnologia em que os chineses pretendem dar um salto adiante. Mas trata-se de setores que, até agora, rendem poucas exportações para os EUA, ao menos (robôs, equipamento aeroespacial avançado, biotecnologia).

Na classificação oficial americana, em 2017 o país importou da China US$ 171 bilhões em bens de "tecnologia avançada". Desse total, US$ 160 bilhões vieram da venda de computadores, peças e partes de produtos eletrônicos em geral, telefones celulares e coisas assim.

Como disse o embaixador da China nos EUA, Cui Tiankai, a uma TV de seu país, "[a atitude de Trump] vai afetar o cotidiano de americanos de classe média, o resultado das empresas americanas e os indicadores do mercado financeiro".

Talvez o decreto boçal de Trump nem faça todo esse efeito, ao menos no comércio. Os coreanos podem tirar parte de suas indústrias da China e vender os mesmos produtos para os americanos, assim como o podem outros países do entorno chinês. Trump vai barrar o comércio do Leste da Ásia inteiro?

Não se pode duvidar dessa hipótese remota e delirante, pois Trump talvez não seja contido nem pelas principais associações empresariais americanas, que começam a entrar em transe, ou pela ameaça de revolta do consumidor americano, que pagaria mais por seus gadgets e computadores e não veria o nível geral de emprego subir por causa disso.

Note-se de passagem que os americanos importam eletrônicos, brinquedos, material de cozinha, peças de carros, móveis, sapatos, metais, tudo e qualquer coisa da China. Apenas de vestuário e tecido, os chineses venderam US$ 24 bilhões para os americanos em 2017, quase o valor total de tudo o que o Brasil exportou para os EUA no ano passado.

A China tem tamanho, econômico e militar. Pode deixar de comprar dos agricultores americanos, para começar. Pode fazer graças com a dívida americana (o governo chinês é o maior credor do governo americano, com US$ 1,17 trilhão em títulos). Pode dar rumo mais agressivo a sua política externa.

Como disse o embaixador Cui Tiankai: "Não queremos uma guerra comercial. Mas não temos medo dela. Se querem pegar pesado, vamos pegar pesado e ver quem vai durar mais. Vamos lutar até o fim".

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