Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu inflação juros FGTS

Brasil está só olhando as vitrines

Vendas do varejo decepcionam, mesmo com renda em alta; recuperação fica ainda mais lerda

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Consumidoras olham vitrine de loja no Brás (SP)
Consumidoras olham vitrine de loja no Brás (SP) - Rubens Chaves - 7.jul.15/Folhapress

AS VENDAS do comércio perdem ritmo desde novembro. Economistas e analistas econômicos perdem o rebolado: não se sabe bem por que o varejo ainda anda muito devagar, se comparado aos casos melhorzinhos de salário, juros e endividamento.

Como outros resultados do bimestre foram também fracos, ficou mais forte o cheiro de queimado no ar. Pode ser nuvem passageira, e, além do mais, conhecemos pouco dessa economia brasileira que sai toda cheia de sequelas da recessão.

O que sabemos é que a economia ainda se recupera, mas cada vez mais devagar desde fins de 2017. Pode ser que os estímulos maiores da recuperação tenham se dissipado: baixa rápida da inflação, os saques do FGTS, a safra agrícola imensa. Outros empurrões continuam, localizados, mas relevantes: a venda de carros, empurrada em parte por exportações excepcionais. Algum investimento em máquinas e equipamentos começou a voltar.

Ainda assim, faltam explicações.

Sim, é evidente que a economia ainda está na lama do fundo do poço, em termos de nível de produção, de PIB. No ano passado, o PIB per capita apenas deixou de cair. Mas os fatores que costumam influenciar o consumo já deram sinais de vida.

As vendas do comércio regrediram, como tudo no país, e ainda estão em níveis de 2012 (se consideradas as vendas per capita, em níveis de 2011). Mesmo em ramos de consumo mais essencial, como supermercados, a regressão do volume de vendas é a mesma.

No entanto, a massa salarial, o total de rendimentos do trabalho, já voltou pelo menos aos níveis de 2015. Cresce bem mais rápido do que o consumo, do que o volume de vendas do comércio dito “restrito” (que não inclui veículos e material de construção). É verdade que o ritmo de crescimento real dos salários desacelerou também. Ainda assim.

A despesa mensal com o serviço da dívida das famílias é a menor desde 2011, cerca de 20% da massa de rendimentos, embora ainda acima do nível anterior à disparada final do crédito, em 2008, de cerca de 18%. De qualquer modo, cai sem parar desde meados de 2016. Mesmo as indecentes taxas de juros bancárias cederam um tico, embora tenham parado de cair de modo relevante desde fins de 2017.

O desempenho do PIB do quarto trimestre de 2017 já não havia sido muito animador. Como se escrevia nestas colunas, no começo de março: “O consumo das famílias cresceu quase nada no trimestre final de 2017, mostrou o balanço do PIB. O resultado ruim provocou sorrisos amarelos entre otimistas e governistas e suscitou explicações engenhosas dos entendidos”.

Quais são as explicações agora?

Haveria mais gente com trabalho precário, inseguro, bicos, “por conta própria”. O consumidor ficaria então na retranca, dado o rendimento incerto de amanhã.

Haveria a memória do desastre: a recessão enorme e a alta brutal do desemprego quando o endividamento estava nas alturas traumatizaram o brasileiro. De resto, os juros ainda estão altos.
Haveria o medo do futuro de um país em tumulto político permanente, dominado por gente desclassificada e muita vez candidata à cadeia.

É especulativo e, até pelo menos maio, vai ser difícil saber o que se passa. De menos incerto, Michel Temer deve continuar pestilencial na eleição.

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