Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu juros Selic

Clima mais azedo no país e no governo

Ânimo econômico baixa, governo para, há grita contra juros, recuperação se arrasta

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O presidente Michel Temer no Palácio do Planalto
O presidente Michel Temer no Palácio do Planalto - Adriano Machado/Reuters

O primeiro terço do ano se foi. Foi para o vinagre.

Há mal-estar, náuseas renovadas na economia. Há derrotas dos reformismos restantes do governo, de resto paralisado. A definição de candidaturas presidenciais ainda será cozida por pelo menos um mês e pouco em um angu de politicalha repulsivo para a população quase inteira.

A recuperação econômica passou de lerda a arrastada, pelo que se sabe até agora, pelos dados de janeiro e fevereiro. A confiança de consumidores, comércio, construção e indústria baixou em abril, prejudicada em particular pelas expectativas.

A conversa dos juros baixos saiu pela culatra, tanto para economistas como para políticos do governo. A Selic caiu para a mínima histórica, mas nos bancos o crédito é baixo e os juros são altos. A grita contra os juros é maior agora do que faz um ano.

No fim de março, o Banco Central dizia com tranquilidade que os juros bancários baixavam como de costume, como em outras campanhas de redução de juros básicos. Não colou. Povo, empresários e até economistas e financistas têm discordado, como se pode notar pela conversa pública amarga ou raivosa.
Os projetos principais do governo aos poucos vão à breca, por vezes com a cumplicidade do próprio governo.

A privatização da Eletrobras no máximo será cozinhada em banho-maria com forno apagado, em parte devido ao lobby parlamentar da boquinha, em parte devido à desmoralização do programa reformista, empesteado pelo desprestígio terminal de Michel Temer. A venda da Casa da Moeda morreu na boquinha para partidos. Era uma graça vistosa do programa de privatizações e concessões de Temer de 2017, quase todo atolado.

Não deve ocorrer o megaleilão de petróleo, em meados do ano, que poderia render dezenas de bilhões para um Tesouro depenado e motivar alguma animação e propaganda do governo. Depende de um acerto de contas entre Petrobras e União, um rolo que já dura anos, mas que se acreditava quase resolvido. Mas “deu ruim”, como diz o povo.

Faz mais de um mês, o Congresso derruba vetos de Temer, deixa caducar medidas provisórias e aprova favores fiscais (menos impostos) para empresas, setores, regiões, ricos. Reformas microeconômicas engripam no Parlamento (cadastro positivo) ou dentro do Planalto (lei de falências).

No mais, o governo dedica-se à sua especialidade, a ser MDB, negociar cargos com partidos tão ou mais indizíveis a fim de fazer arreglos com vistas à eleição ou à derrubada de uma possível terceira denúncia contra Temer.

O “reality show” do Supremo, um programa deprimente e politizado, não contribui para a confiança do cidadão médio em coisa alguma, das instituições ao futuro político ou econômico.

Mesmo a alta do dólar, que em si e por ora não é um problema econômico, pinga algumas gotas de vinagre nesse caldo ruim de abril. Goste-se ou não, o preço do dólar é um tradicional termômetro “pop” da situação do país; em alta notável, dá uma estragada nos humores dos ricos, que veem de pronto sua cesta de consumo ficar mais cara.

Não, a recuperação econômica não foi para o vinagre. Sim, o que parecem tumultos convulsivos em certos dias se dissolvem despercebidos no mês seguinte —o Brasil é instável.

No entanto, com água pelo nariz, uma economia que mal voltou à tona e uma campanha eleitoral ainda cheia de aberrações, há risco maior de o azedume causar mais problemas.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.