Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire

O chuchu Alckmin, de picolé a fritura

Para políticos do centrão, ex-governador é apenas opção de última instância

Uma conversa com gente do DEM e do PP sugere que a candidatura de Geraldo Alckmin tem gosto intragável para políticos que na prática são líderes informais disso que se chama de centrão. Ou seja, quase o Congresso inteiro afora esquerda, MDB e PSDB.

A opinião desses centristas de direita sobre o tucanato vai do ressentimento pela arrogância das aspirações tucanas de liderança, mesmo na decadência, à mera condescendência pelas dificuldades de Alckmin na corrida de cavalos das pesquisas eleitorais. Em geral, fica claro que uma aliança com o ex-governador paulista seria apenas uma consideração de última instância.

Uma enquete com diretórios do MDB, publicada pelo jornal O Globo, mostra aversão de intensidade semelhante a uma aliança com os tucanos.

Não que os alckmistas estivessem à vontade de casar com o partido de Michel Temer e seu desprestígio pestilencial. Pelo menos um terço do próprio MDB já parece decidido a fugir de Temer como se fora o beijo da morte na urna. Alckmin comandou o desembarque tucano do governo justamente para ter tempo de se descontaminar.

Restariam ao PSDB as alianças com o PSD, o PTB, se tanto, e com o PPS. Haveria ainda tempo razoável de TV, dinheiro e a máquina tucana restante, embora os tratores do partido estejam atolando mesmo no barro paulista, que o ex-governador tanto gostava de amassar. O problema não está bem ou apenas aí.

Partes do centrão podem de fato se bandear para Ciro Gomes (PDT). Pela conversa dos centristas de direita, a hipótese é mais do que rumor ou estratégia de leilão de apoios. Não é adesão por afinidade. Ciro está em consideração apenas porque é uma alternativa viável restante, por ora, e não é nem MDB nem PSDB.

Caso apareça outro nome, melhor ainda, mesmo que seja um Silvio Santos juridicamente viável (o apresentador foi enfiado na reta final da eleição de 1989 por uma manobra picareta da direita que não estava com Fernando Collor).

Até onde se pode enxergar, a escolha dos finalistas do segundo turno nesta eleição pode depender de décimos de porcentagem de votos, como em 1989.

Mesmo com o nojo quase geral do eleitorado por políticos, máquinas partidárias podem juntar votos suficientes para empurrar um candidato para o segundo turno. Alckmin pode morrer na praia, de solidão, ou ficar avariado bem cedo, caso Ciro abra uma vantagem maior sobre o tucano.

Assim parece o jogo, a esta altura do primeiro tempo da campanha. Claro que opiniões e aversões podem se desfazer caso até julho apareça alguém para chamar de seu com 20% dos votos —mesmo que esse alguém seja Alckmin. Julho é mês de convenções partidárias.

A inconstância tende a persistir. Basta ver a confusão causada por Joaquim Barbosa, seus 9% de votos e potencial de mais alguns. O jogo pode mudar, mas provavelmente será jogado no escuro até bem tarde, até que sejam tomadas decisões quase oficiais nos partidos.

Não é por acaso que muita gente no MDB e no PSB comece a dizer que, em tempo de murici, cada um cuide si, que os partidos não tenham candidato a presidente, ficando os acordos ao gosto de cada diretório estadual. Não se trata apenas de evitar o desperdício de bom dinheiro de campanha em candidato ruim ou de se aliar a perdedor, mas da dificuldade de apostar logo em um cavalo favorito e de boa montaria.

Enfim, para certos partidos, vender o apoio agora ou depois da eleição não faz muita diferença.

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