Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu Eleições 2018 Datafolha

Os órfãos de Lula e de Barbosa

Há perguntas mais relevantes do que o debate sobre o espólio do ex-quase candidato

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O ministro aposentado do STF  Joaquim Barbosa, que desistiu da candidatura à Presidência
O ministro aposentado do STF Joaquim Barbosa, que desistiu da candidatura à Presidência - Eraldo Peres - 19.abr.18/Associated Press

Entende-se a sensação causada pelo meteoro Joaquim Barbosa, mais um “outsider” que brilhou rápido no céu nublado da eleição. Menos razoáveis têm sido as tentativas de definir quem herda seu espólio eleitoral. 

Vai ser difícil seguir a dispersão dos pedacinhos do meteorito Barbosa, se é que boa parte não vai se espalhar de modo aleatório. 

Para piorar, há determinantes do voto ainda obscuros, pois a campanha eleitoral não começou para valer.

O que se sabe? O ex-quase candidato do PSB tinha 9% no Datafolha de abril. Os órfãos de Lula eram 11%.

É a parcela do eleitorado que passa a votar branco, nulo ou “não sabe” quando o ex-presidente sai da lista de candidatos. 

Lula ainda terá força política considerável. Barbosa vai se dissolver no éter, a se acreditar em suas entrevistas de adeus à política em que nunca entrou: declarou abstenção total.

Barbosa tirava votos de quem? Difícil dizer, pois os cenários de pesquisa em que aparece desde setembro de 2017 não são bem comparáveis. Em pesquisas anteriores, hoje exóticas, com Sergio Moro e Luciano Huck ou sem Marina Silva (Rede), Barbosa rondava os 5%, indo a 8% em um caso. 

Na pesquisa de abril, quando Barbosa chegou à casa dos 9%, Jair Bolsonaro (PSL) perdeu mais votos. Mas a mudança pode não ter sido lá relevante em termos estatísticos. Em termos políticos, sabe-se ainda menos sobre a circulação submarina desses votos pelo mar de candidatos. O capitão da extrema direita teria chegado a um teto, como se chuta por aí? Perdeu votos para Barbosa? Sabe-se lá.

O eleitorado de Barbosa era mais parecido com o de Bolsonaro no que diz respeito a escola e renda (no topo da escala), mais ou menos o oposto do eleitorado atual de Marina. 

Os eleitores de Marina serão tipicamente pobres e de pouca instrução? Não necessariamente. 

Pode ser que a candidata tenha por ora votos de quem se lembra de eleições passadas e ainda não olhou bem para o que se passa agora (“recall”). Pode ser que Marina venha a agregar esses eleitores ricos, ditos “preocupados com a ética na política”, que seriam os de Barbosa, como se especula.

Claro que a breve visita de Barbosa à eleição foi relevante. Por exemplo, o receio de que viesse a levar ainda mais votos induziu candidatos a antecipar negociações de alianças, iniciativas no momento suspensas.

A súbita solteirice do PSB pode também mudar a dança dos partidos. Nos estados, o partido tem muito mais afinidades e acertos com o PDT de Ciro Gomes, embora não seja simples fazer um casamento nacional. 

Há mais o que pensar. A eleição é uma conversa das candidaturas com o eleitorado, o que mal começou, por vários motivos (elenco indefinido de candidatos, desnorteio partidário e ideológico, calendário tardio neste ano etc.). 

Quando Lula não está na parada, um terço do eleitorado mais pobre vota em ninguém. Na amostra do Datafolha, 48% dos entrevistados têm renda familiar inferior a dois salários mínimos, entre os quais Marina lidera. A maioria dos candidatos pouco diz a essa massa indecisa.

As candidaturas reformistas liberais serão associadas à economia lerda e ao desprestígio de Michel Temer? As alianças de Geraldo Alckmin (PSDB) no “centro” vão marcá-lo como candidato de fato do governismo ou do “bloco no poder”? Quais candidatos terão discursos eficazes para o centro-sul e para o Nordeste, dois países ainda mais diferentes em termos de voto?

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