Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire

Brasil é melhor do que parece, Neymar foi muito pior do que é

Quando a gente olha um jogo torcendo de modo demente (Copa), mal consegue ver a partida.

Outro dia, revi o 2 a 0 na Alemanha, decisão da Copa de 2002. Quem carregou o time nas costas? Kléberson, que jogou muito: armou, defendeu, quase marcou e deu o passe para o segundo gol de Ronaldo. Ronaldinho sumiu. Ronaldo e Rivaldo resolveram na frente quando foi preciso, mas não estavam bem.

Revi apenas um condensado de Brasil 1 x 1 Suíça. Depois de botar o bacalhau torcedor para fora, depois dos xingamentos de domingo (17), o que deu pra ver um pouco melhor?

O atacante Neymar tem sua camisa puxada pelo suíço Xhaka , na partida de estreia do Brasil na Copa do Mundo da Rússia
O atacante Neymar tem sua camisa puxada pelo suíço Xhaka , no empate de 1 a 1 entre Brasil e Suíça, pela Copa do Mundo da Rússia - Eduardo Knapp/Folhapress

BOM TIME. Sim, é um bom time, ainda dá para dizer. É bem arrumado por Tite, tem um fora de série e, no mais, jogadores de destaque nos melhores times do mundo. O Brasil jogou dez minutos direito no primeiro tempo, logo antes do gol. Jogou com vontade mesmo nos 15 minutos finais, mas de modo mais desordenado.

CHUTES. O Brasil finalizou 20 vezes, 4 no gol (Suíça: 4 e 2). Em geral, o pessoal põe para dentro muitas dessas bolas. Se uma ou duas tivessem entrado, para o que faltou meio metro, a história seria outra, haveria babação pelo time. Mas os problemas continuariam lá.

TRAVADO. Ficou a impressão de que o jogo do Brasil não tinha fluência. Por quê? A ordem estava lá, o movimento não. Paulinho esteve muito ausente da partida, quase não jogou com Coutinho. Ficou muito nas costas de Marcelo, que monta muitas das jogadas do time, mas errava muito mais passes do que de costume. Casemiro quase não jogava com William —faltava então variação de jogo pelo lado direito do ataque. O time de Tite foi formado para ser firme na defesa e usar o contra-ataque. Não funcionou, não fluía.

NEYMAR TRAVADO. A falta de fluência também se deveu ao problema Neymar. Falando estritamente de jogo, Neymar segurava demais a bola, tentava um segundo ou terceiro dribles inviáveis e não está 100% em ritmo de jogo, pelo menos no padrão dele. Seria obviamente alvo de botinadas. Ao prender demais a bola, levou ainda mais faltas, o que prejudicou ainda mais a fluência do jogo.

PSICOLOGIA BARATA. Além do mais, Neymar parece preso a uma fantasia narcisista improdutiva, a de que precisa estar à altura da imagem midiática de si mesmo, no que falhará quando estiver sendo caçado em campo, segundo seu mito. Ou seja, parece ligado demais no seu show e na história de vitimização, a hipervalorização da caçada que sofre, problema real a que recorre de modo exagerado e antecipado com o objetivo de justificar um eventual fracasso de seu mito. Em resumo, o seu notório mimimi que se tornou ontem piada mundial. Neymar corre o risco de fazer de si mesmo uma caricatura.

AINDA NEYMAR. Se Neymar vai ser caçado e o jogo do Brasil vai ser travado por aí, é óbvio que Neymar tem de soltar logo a bola e abrir espaço para o resto da turma, o que faria o adversário gastar marcação com ele e daria velocidade ao jogo. O Brasil fez exatamente o contrário ontem.

PSICOLOGIA BARATA 2. O time apagou depois do gol, todo mundo viu. Foi até estranho. O que teria havido? Salto alto, a ideia de que o jogo seria decidido sem mais muito esforço, naturalmente?

DEPOIS DO GOL. De mais objetivo, o time passou a jogar muito perto de sua área, deixou a Suíça armar jogadas, em particular livre para cruzar bolas.

GABRIEL JESUS. Desapareceu entre os zagueiros, foi quase facilmente desarmado ou bloqueado em dois ataques decisivos. Esteve mal e reclamando demais, com cara de choro, sinal de falta de concentração e fuga de responsabilidade. Não parecia ter força física e mental para jogar.

SUÍÇA. É um time bem ordenado, com gente que sabe jogar bola, que não tem medo de sair para o jogo, que nem de longe armou uma retranca. Mas é um time medíocre. No entanto, é bem ranqueado (6º). É o jogo da primeira rodada com a menor distância de ranking (Brasil é o 2º). Isto é, pelas estatísticas seria o mais equilibrado.

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