Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Brasil sem vacina no resfriado global

EUA e Europa admitem fraqueira econômica; país tem remédio, se parar com besteira

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Neste país cada vez mais jacu, provinciano, a gente presta menos atenção ao que se passa lá fora. A economia mundial, porém, costuma nos visitar. Bate à nossa porta com cara de gripe.

O BCE (Banco Central Europeu) afirmou nesta quinta-feira (7) que a economia da eurozona está perto de ir para o vinagre. Diga-se de passagem: é uma notícia que pode dar uma ajudazinha para a tese de que é preciso cortar juros básicos no Brasil.

O presidente do BCE (Banco Central Europeu), Mario Draghi, durante anúncio de manutenção de medidas de estímulo à economia
O presidente do BCE (Banco Central Europeu), Mario Draghi, durante anúncio de manutenção de medidas de estímulo à economia - Lu Yang/Xinhua

Não, não é a peste, uma crise mundial daquelas contagiantes. Sim, nossos problemas domésticos são tamanhos que, dando um jeito nas panes maiores, até podemos superar os problemas importados. Isto é, dentro de certos limites. Como ainda estamos estagnados, com água pelo nariz, marolas podem nos dar uns caldos.

Essa balançada que estamos vendo no preço do dólar parece, basicamente, o efeito do dinheiro grosso se movendo pelo mundo por causa dos alertas de baixa no crescimento mundial.

Até dezembro, ouvia-se nos Estados Unidos e na Europa a conversa de que haveria ainda altas de juros e apertos monetários neste 2019, embora mais modestos. Nesta quinta-feira, o Banco Central Europeu anunciou uma reviravolta.

Faz dias, gente da direção do Fed (o BC americano) tem dito que o gato dos juros subiu no telhado, que a economia desacelera e não há inflação à vista.

No mercado, a taxa de juros de dez anos dos títulos do governo americano, que chegara a 3,24% em novembro, baixou a 2,64%.

O BCE revisou suas estimativas de crescimento da eurozona de 1,7% para 1,1% (o PIB da região cresceu 1,8% em 2018, o ritmo mais lento desde 2014). Assim, vai continuar com sua política de taxa de juros entre zero e menos do que zero, pelo menos até o fim do ano.

Em setembro, vai retomar sua política de empréstimos a juro zero para bancos que de fato deem crédito a empresas e pessoas (medida que, aliás, não tem sido muito efetiva).

O bancos centrais de Canadá e Austrália puseram as barbas de molho. A China dá tratos à bola a fim de evitar que o crescimento seja menos do que 6%.

Os grandes países da Europa têm problemas variados, embora os ex-comunistas estejam crescendo barbaramente.

No entanto, o presidente do BCE, Mario Draghi, atribuiu o grosso da fraqueira econômica à baixa da confiança provocada pelas guerras comerciais.

Em suma, sem o dizer, culpou o Nero Laranja, Donald Trump.

Algum impacto haverá no Brasil. Um pouco pela redução do consumo mundial; outro tanto caso sobrevenham sacolejos financeiros típicos dessas reviravoltas. A princípio, não vai ser problema na veia, como os causados pela crise argentina, da qual esquecemos, aliás. Mas vai incomodar.

A Argentina implodiu em maio. Comprava muito carro brasileiro. A recessão argentina foi uma causa da desaceleração da indústria nacional, que vem desde julho (desânimo causado também pelo caminhonaço, pela crise de confiança e pela piora das condições financeiras nos meses de campanha).

Em julho, a produção industrial crescia a 3,3% (no acumulado em 12 meses). Em dezembro, a 1,1%. O ritmo de crescimento da indústria de veículos, ainda bom, baixou 40%, porém. A indústria de alimentos regride desde agosto.

O desalento mundial vai tirar umas lascas do nosso crescimento.

O Brasil parece estar numa daquelas cenas de velhos desenhos animados em que uma personagem corre sobre uma ponte que desaba, tentando chegar ao outro lado do desfiladeiro. Agora, há mais tábuas caindo.

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