Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Devagar, quase parando, de novo

Crescimento anual da indústria volta a se aproximar do zero, mostram dados de janeiro

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Faz dois anos, se espera uma recuperação da economia que não veio. Faz dois meses, a gente se pergunta se deve esperar uma nova deterioração. O desempenho da indústria em janeiro tira ainda mais água do copo meio vazio.

A produção das fábricas ainda cresceu, nos últimos 12 meses contados até janeiro, soube-se nesta quarta-feira (13), pelos dados do IBGE. Mas está perto de voltar ao vermelho. Em abril de 2018, crescia animados 3,9% ao ano. Em janeiro passado, apenas 0,5%.

Linha de produção de motores em Taubaté
Linha de produção de motores em Taubaté - Diego Padgurschi - 25.abr.18/Folhapress

A perda de ritmo era notável também no comércio de varejo, até dezembro, dado mais recente. Nos serviços, havia ainda despiora, pois o setor ainda encolhe. O crescimento da massa de rendimentos, a soma do que as pessoas recebem pelo seu trabalho, também desacelerou.

A frustração das previsões tem sido sistemática. É verdade que pesam os anos de tumulto político e a dúvida a respeito do que será feito da ruína das contas públicas arruinadas. Mas muito disso estava na conta das previsões. Ou o efeito dessas incertezas era maior do que o estimado ou há mais problema na sombra.

Sim, também é verdade que o caminhonaço colocou mais caroço nesse angu. Mas as estimativas de recuperação depois desse desastre também foram bola fora.

É argumentável que desânimos externos tenham tirado umas lascas do crescimento. Ainda assim, a conta da frustração não parece fechar.

A indústria apanha porque a Argentina entrou em colapso e porque o crescimento das vendas para os Estados Unidos perdeu ritmo. Esses países são grandes compradores de produtos industriais brasileiros: veículos, motores, peças, máquinas, aviões.

Exportações prejudicadas são apenas parte do problema. O setor de maior peso na indústria, o de alimentos, andou muito mal até outubro (está em queda de mais de 5% nos últimos 12 meses). Têxteis, vestuário, calçados, móveis e eletrônicos também estão no vermelho. O povo está comprando pouco, parece óbvio.

De resto, voltou certo desânimo no setor de máquinas e material de construção civil. Para completar o quadro cinzento, o número de pessoas empregadas com carteira assinada na indústria voltou a cair em janeiro, na comparação anual.

Há quem diga que se trata de um soluço ruim, ainda rescaldo de incertezas e da piora das condições financeiras, obras da campanha eleitoral.

Pode ser, não dá para negar, por enquanto. Os dados que estão saindo agora retratam a situação em janeiro. No entanto, depois de dois anos, o gato da esperança está bem escaldado, quase pelado.

A economia teve surtos positivos desde o fim da recessão devido a impulsos circunstanciais e colchões finos que se esfarelaram. Por exemplo: 

1) a queda rápida da inflação em 2017, devida à queda do preço dos alimentos e à safra enorme; 

2) a liberação do dinheiro do FGTS; 

3) a liberação do dinheiro do PIS/Pasep

4) a breve alegria consumista de carros na Argentina.

O investimento não voltou (trata-se aqui dos gastos em máquinas, equipamentos, instalações produtivas, casas). A massa de rendimentos do trabalho chegou a crescer pela casa de 4% ao ano na metade final de 2017. Desde agosto, anda em torno de 1,8%. Em resumo, o crescimento não se sustentou.

Pode ser que até o fim desta semana saiam números desconcertantes de positivos a respeito de comércio e serviços. A conversa média de que toca empresas é que, em meados de março, o ritmo não difere do que se viu no ano passado.


 

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