Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire

Emprego formal cresce quase nada, mas saúde e serviços profissionais vão bem

Mercado formal se arrasta, mas medicina e serviços profissionais vão bem

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O emprego formal anda meio de lado desde setembro de 2018, como quase o resto todo da economia brasileira. Os raros brotos verdes murcham desde o começo da primavera do ano passado.

Os números relativos a maio confirmam a quase estagnação, mostram os dados do Caged, divulgados nesta quinta-feira (trata-se dos registros do emprego formal no ministério da Economia).

A situação é diferente apenas no setor de serviços, mais especificamente nos de “serviços médicos, odontológicos e veterinários” e de “administração de imóveis e valores, serviços técnico-profissionais”.

Desde setembro de 2018, o número de empregos formais no país inteiro cresce em média 1% ao ano. Atualmente, isso quer dizer 400 mil empregos a mais com carteira, por ano. Recorde-se que em 2015, 2016 e 2017 foram perdidos 3,1 milhões de empregos. Portanto, ainda estamos perto do fundo do poço e tão cedo não sairemos de lá.

Mas, como se dizia, o caso dos serviços é diferente. As empresas de medicina e odontologia foram responsáveis por quase 22% de todo o aumento de empregos com carteira no Brasil, nos últimos 12 meses. No entanto, empregam menos de 6% do total da força de trabalho formal.

Em parte, a explicação parece óbvia: como a indústria vai mal e alguns outros setores capengam, mesmo ramos menores podem ganhar mais peso. Essa explicação também é obviamente tola: por que medicina, odontologia e veterinária aguentam o tranco desta crise horrenda?

O setor foi o único que manteve o saldo positivo de criação de empregos nos anos da recessão, 2015 e 2016. Nos últimos 12 meses, empregou mais 102 mil trabalhadores (isto é, a diferença entre contratações e demissões foi positiva em 102 mil pessoas). É um ritmo similar ao dos dois melhores resultados anuais desde 2002. Os resultados são bons mesmo em estados em crise ainda triste de ruim, como no Rio de Janeiro.

É possível chutar que a demanda desses serviços não é tão elástica, que a população envelhece e precisa de mais cuidados etc. Mais “pets”? Mas como se paga essa conta? Talvez comprando menos roupas e calçados, indústrias que estão demitindo, ou comida mais barata (a indústria de alimentos vai mal).

Outro setor que vai bem, nesta nossa miséria, é o de “administração de imóveis e valores, serviços técnico-profissionais”, uma mistura ainda mais difícil de interpretar. É um negócio que emprega cerca de 12,5% dos trabalhadores com carteira assinada no país, mas criou 32% de todos os empregos formais nos últimos 12 meses (151,7 mil empregos no ramo). Voltou a contratar no ritmo em que vinha antes da crise, antes de 2014.

A indústria, que emprega quase 19% dos trabalhadores com carteira assinada, perdeu 15,4 mil empregos nos últimos 12 meses.

Como era de esperar, há diferença também entre estados. São Paulo é o caso mediano. Nos últimos 12 meses, os líderes na velocidade de criação de emprego formal são Mato Grosso. Espírito Santo, Santa Catarina e Amazonas. Rio de Janeiro, Pernambuco e Acre estão nos últimos lugares. Os pernambucanos ainda perdem empregos formais. No Rio, o saldo de empregos com carteira no último ano foi de 1.101.

O resumo da ópera, de qualquer modo, é ruim, porque a indústria voltou a regredir e na construção civil a recuperação é pífia. A falta de investimento em obras, públicas em especial, mas também privadas, ainda é o grande ralo da economia brasileira. Ainda não sabemos como, se e quando vamos tampá-lo.

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