Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire

Fatia do bancos privados no bolo do crédito fica maior que a da banca estatal

Banca privada volta a ultrapassar estatais; crédito de outras fontes cresce mais

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Os bancos privados voltaram a ter maioria no bolo do dinheiro emprestado pelas instituições financeiras, o que não acontecia desde maio de 2013. Os bancos em geral, por sua vez, têm parcela cada vez menor no crédito concedido a famílias e empresas, segundo estatística que o Banco Central começou a publicar no mês passado.

Não é, claro, uma revolução. Mas é mudança pronunciada, evidente e planejada desde 2016 e que deve continuar em marcha cada vez mais rápida pelo menos até 2022. Isto é, caso Jair Bolsonaro não crie caso com o programa ultraliberal do ministro Paulo Guedes (Economia), plano que, se der certo, será apenas liberal, se tanto, depois de coado pela peneira política do país.

Em maio, o total de dinheiro emprestado pelos bancos públicos era de 49,99% do total (trata-se aqui do estoque de crédito, não de novos empréstimos). Nos números, é um empate, o centésimo de porcentagem é uma graça estatística. Na prática, ainda é uma participação historicamente alta, mas indica simbolicamente o fim do programa de inchaço do crédito público dos governos Lula 2 e Dilma Rousseff.
 

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BNDES, no Rio de Janeiro - Lucas Tavares18.jul.2017/Folhapress

Entre o fim das grandes privatizações bancárias (2001) e o estouro final da grande crise mundial (2008), os bancos públicos tinham algo em torno de 37% do crédito. Ao final de Lula 2, cerca de 42%. Em fins de Dilma 2 (junho de 2016), 56,6%.

Os bancos privados perderam participação tanto porque puseram o pé no freio nas crises da última década como porque os governos petistas puseram o pé no acelerador dos bancos públicos, com resultados pífios para o crescimento, programa que se tornou deletério ou ruinoso depois de 2011.

Desde 2016, houve avanço mais rápido dos empréstimos dos bancos privados, um alta mais comedida no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal e uma retração violenta do BNDES. Desde a deposição da presidente, cerca de 85% da perda de participação dos bancos públicos deveu-se ao encolhimento do BNDES.

Em 2013 e 2014, auge do programa dilmiano, o BNDES concedia mais de 5% do total dos empréstimos novos do sistema financeiro. Nos últimos 12 meses, apenas 1,7%.

O BNDES encolheu porque: 1) a vontade das empresas de investir caiu (recessão); 2) porque as taxas de juros do banco ficaram menos atrativas (o subsídio começou a acabar); 3) porque o governo forçou um tanto do encolhimento. Talvez por um pouco disso tudo, as empresas foram buscar dinheiro no mercado de capitais.

Parece estar aí um dos motivos pelos quais a participação dos bancos no total de crédito esteja caindo. Desde maio, o BC publica uma medida ampliada do crédito. Além de empréstimos bancários, inclui títulos de dívida, derivativos, empréstimos de outras instituições que não as bancárias, consórcios, empréstimos intercompanhia, de fundos constitucionais etc.

A publicação da estatística é nova e os dados recuam apenas até 2013. Logo, ainda não deu para entender a manha dos números, para piorar abalados pelo choque da recessão. Mas há alguns dados gritantes. Em 2013, o crédito bancário era 72% do “saldo de crédito ampliado”. Zanzou em torno de 66% de 2015 a 2018. Está em 60%.

O programa de encolhimento dos bancos públicos deve continuar. Se o país se emendar, a taxa de juros ainda tende a cair mais e de modo mais duradouro _mais motivos para as empresas irem ao mercado de capitais. A mudança parece grande, convém prestar atenção.

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