Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire

No mundo 5G, seu celular e o Brasil são máquinas atrasadas

País precisa criar condições para adotar a tecnologia 5G, mas já se atrasa

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A dificuldade de conseguir uma licença de construção da prefeitura pode ser um empecilho para a telemedicina no Brasil. Quer dizer, um alvará encrencado talvez emperre uma tecnologia que permite a um médico fazer cirurgias a quilômetros de distância de seus pacientes, até sentindo a consistência de um órgão do doente.

Esse texto parece uma daquelas propagandas futuristas bobas, que contrapõem inteligências maravilhosas da tecnologia a burrices da burocracia estatal. O exagero não é tão besta assim.

As redes móveis de 5G, de telecomunicação ultrarrápida e potente, vão depender da construção de muito mais antenas de celular (vai haver antena até em poste de luz e sinal de trânsito). As prefeituras atrasam e encrencam a licença do equipamento, muitas vezes construídas de modo irregular por operadoras. O rolo é tamanho que tramita no Congresso um projeto de lei apenas para facilitar o processo.

É um dos problemas que já atrasam e podem atrasar ainda mais a evolução e a ampliação das redes móveis (uma rede de comunicação em que a última conexão é sem fio, seja com um celular ou outro aparelho).

Atrasos na adoção do 5G podem ter consequências históricas, tais como aquelas derivadas da restrição à importação de computadores, que danou o país por duas décadas.

O leilão das frequências para 5G estava previsto para março de 2020. A disputa deve ficar para outubro, devido a um debate arrastado de problemas técnicos (interferência em sinais de TV aberta) e lobbies (legítimos) de empresas envolvidas, discussão que ainda está na Anatel. E daí?

A tecnologia 5G não vai permitir apenas que vejamos gatos em GIFs que não travam. É uma infraestrutura econômica e de revolução tecnológica.

Do mesmo modo que uma empresa não pode se instalar em uma região sem transportes e eletricidade que prestem (ou vai fazer produtos inferiores e caros), certos negócios não vão se instalar ou não serão inventados se não houver 5G.

Com 5G pode haver veículos autônomos, telemedicina e realidade virtual ou aumentada via internet, mas principalmente uma variedade de máquinas inteligentes que conversam e “resolvem problemas” entre si, entre outros montes de aplicações previstas e em projeto. Será uma infraestrutura básica.

Mais preocupante, as licenças municipais para antenas e o atraso nos leilões de 5G talvez sejam os menores empecilhos para a adoção da tecnologia, que de resto não ficará disponível da noite para o dia.

Antes, as empresas terão de investir muito em antenas, equipamentos e cabos de fibra ótica para expandir o serviço. Passar os cabos óticos pode ou não ser facilitado também por regulação e acordos entre empresas de vários setores (até de rodovias).

Ampliar a infraestrutura e tornar viável o uso de 5G depende ainda da revisão de impostos sobre telecomunicações e mesmo sobre chips de celular (sem chips por toda parte, não tem 5G). Depende de estratégias oficiais.

A nova lei de telecomunicações aumenta ainda mais o poder da Anatel de dar diretrizes para o investimento em banda larga, algumas delas sujeitas ainda a definições de base, mais gerais, do governo federal.

O aproveitamento da tecnologia depende, enfim, de que formemos mais engenheiros, cientistas da computação e matemáticos; profissionais de outras áreas terão de ser treinados de novas maneiras.

Além dos interessados diretos, o país e mesmo o núcleo do governo discutem esses assuntos cruciais? Não.

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