Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire

Sem oposição, direita se dá até o luxo de brigar e discutir 2022

Esquerda está isolada, economia e prestígio de Bolsonaro dão sinais de reação

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O bolsonarismo tentou fritar Sérgio Moro. No fim das contas, parece que Jair Bolsonaro corre o risco de acabar frito por Moro. A paranoia do presidente com frequência antecipa discussões e ações relativas à distante eleição de 2022, como ocorreu na semana que passou: bateu em Moro, mas levou.

Viu-se que o ministro tem apoio bastante para fazer com que Bolsonaro guarde a pistola no saco. Afinal, Moro e seu partido lavajatista podem rachar a direita mais extrema e, no limite, complicar a reeleição. Sabe-se lá se o ministro da Justiça tem fumaças de candidato, mas o mero risco de que se lance pode reorganizar os times do jogo de 2022, que começa a ser jogado, como se o país não estivesse ainda em ruínas.

Luciano Huck, como se viu, fez o primeiro pré-lançamento de sua candidatura, em Davos, para plateia de coluna social, “poucos e bons”. Discute-se como Rodrigo Maia pode se encaixar em um projeto 2022. Etc.

Claro que esse assunto rende porque é flor do recesso, porque o ano político não começou propriamente. Mas não só por isso: é porque não há quase qualquer outra política. A crise social e os vexames do governo Bolsonaro não estão em pauta em parte porque a oposição está morta, catatônica ou com Lula livre na praia. Filas do INSS, vexames no Enem, ministros enrolados, salário mínimo sem aumento, emprego precário, nada disso se torna assunto político de dimensão relevante nem campanha de desgaste do presidente. Ao contrário.

A popularidade de Bolsonaro deixara de cair no terço final de 2019. Agora, há indícios de que sobe. Sem um desastre criminal de monta (caso Flávio-Queiroz) ou atrocidade nova e grande do governo, é razoável esperar que o prestígio do presidente possa subir mais. Decerto Bolsonaro e equipe econômica ainda têm de empurrar goela abaixo de parte do país reformas duras (arrochão do funcionalismo, mexidas desagradáveis em impostos etc.). No entanto, as reformas trabalhista e previdenciária passaram quase sem um pio.

Embora muito devagar, a economia parece melhor. O resultado do emprego formal de 2019 foi apenas passável, medíocre, apesar da festinha dos governistas oficiais e oficiosos, na política, na TV e na finança. A precarização do emprego formal aumentou. Mas, no conjunto, há progresso e uma discreta aceleração no mundo do trabalho, desde novembro. Além do mais, a turma de Bolsonaro aprendeu um pouco de governo e tende a ser mais esperta e eficaz neste 2020. Em resumo, a esquerda pode ser atropelada se acreditar, sem mais, que o carro da economia não vai andar.

Alguns governadores de esquerda mais atilados perceberam o risco do imobilismo e da negligência burra de esperar que o governo e a economia caiam de podre. Tentam se mover a fim de evitar o isolamento político e social. Até agora, não há sinal de que Lula e seu PT (é posse dele, certo?) vão abandonar a estratégia de “polarização” (isto é, se garantir no segundo turno de 2022 contra Bolsonaro).

Mas esse movimento de governadores é quase nada, não mexe com bases nem tem programa de ataque ao governo federal. A bola continua tocada entre a centro direita e a extrema direita, as quais, nessa apatia geral do “campo popular e progressista”, têm o lazer de discutir arrochos e 2022 quase sem serem amoladas ou sem risco maior de serem punidas por inabilidade política grotesca, tal como a crise Bolso-Moro.

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