Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire

Carnaval deve esfriar crise, mas março tem agenda de tumulto político

Bolsonaristas e servidores marcam protestos, Congresso está em fúria

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O Carnaval tende a amainar a baderna política, em alta desde a virada do ano, graças em especial a Jair Bolsonaro e grande elenco do circo de ultrajes. Mas março tem águas para rolar. O que já está no calendário:

1) O Congresso vai voltar com a faca nos dentes cerrados. O xingamento do general-ministro Augusto Heleno, o desacordo sobre dinheiros do Orçamento e uma até agora inédita irritação com Paulo Guedes, entre tantos problemas, vão suscitar pelo menos uma rodada breve de parlamentarismo roxo. Mais projetos de Bolsonaro vão caducar; nada vai andar além do que os parlamentares julgarem essencial, a critério deles;

2) Os adeptos de Bolsonaro, incitados pelo áudio vazado em revolta de Heleno, convocaram manifestações para o dia 15, um domingo. Vão às ruas em defesa do presidente, que dizem estar ameaçado pelo “golpe branco” do “parlamentarismo branco” (leia mais abaixo);

​3) Servidores federais dos três Poderes, das universidades federais e a UNE começam a convocar paralisações e protestos para o dia 18 de março. Discutem greves;

4) Dia 4 saem os números do crescimento da economia em 2019, os dados do IBGE para o PIB. A depender do resultado, pode haver motivos para agitar outros maus humores e campanhas contra o governo;

5) A repressão do motim da PM do Ceará pode afetar os ânimos das polícias em revolta em vários estados, para o bem ou para o mal, ainda não se sabe. Seja como for, note-se que há movimentos revoltosos na Paraíba, no Pará, em Minas, no Espírito Santo, na Bahia e mesmo na em geral pacífica Santa Catarina;

6) O governo terá enfim de tomar um rumo e mostrar o que pretende no Congresso neste ano. Caso não o faça, pode aumentar a ainda ligeira irritação da elite com o desarranjo reformista. Caso o faça, enfrentará as dificuldades de levar adiante qualquer projeto de mudanças duras, mas não demonstra até agora capacidade de enfrentá-las.

As manifestações de março podem ser um fiasco. Desde a eleição, as ruas perdem ímpeto. Mas, em um país farto de crise, ainda mais conturbado graças à contribuição milionária de todos os erros do governo, não parece razoável ignorar o risco.

Os manifestantes bolsonaristas querem barrar a “imposição do parlamentarismo branco” e “manobras” da esquerda. Dizem com frequência que Bolsonaro se cercou de militares também para evitar o “golpe”, embora certa extrema direita critique o “fortalecimento dos tecnocratas pragmáticos” (como militares) em relação à “ala conservadora”

Nas convocações dos líderes da extrema direita digital, lê-se ainda que o objetivo é conter a “escalada autoritária do velho establishment político podre” e desmontar o “mecanismo”.

A exemplo do general-ministro Heleno, atacam as “chantagens, conchavos e negociatas” do Congresso, que “trava o governo” o quanto pode, com apoio da “extrema imprensa” (jornalismo em geral). São especialmente atacados o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o ministro do Supremo Gilmar Mendes.

Os servidores federais começam sua campanha salarial em março. Na manifestação prevista para o dia 18, querem começar um movimento também contra a reforma administrativa e a emenda constitucional “Emergencial” (aprovada como está, tiraria até 25% dos salários federais).

A campanha deve ter o mote “Eu perco meu emprego, você perde o serviço público gratuito”.

Pelo menos na agenda, a Quaresma não será magra de confusão.

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