Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu Coronavírus

Governo solta pouco dinheiro contra epidemia e não pensa em pobres e pequenos

Bolsonaro não cuida de informais ou pequena empresa e não tem noção da emergência

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Imaginem que um restaurante perca metade do faturamento no paradão da epidemia. Que a loja do shopping feche. Pior ainda, que centenas de milhares de empregados domésticos, “intermitentes” ou não, informais em geral, fiquem sem trabalho. Que milhões de empregados da “nova economia” do bico fiquem sem faturar, na rua da amargura e sem proteção social.

Não se ouviu providência do Ministério da Economia a respeito. Mas o governo disse que precisa aprovar logo a autorização para privatizar a Eletrobras, sem o que não entrarão R$ 16 bilhões previstos no Orçamento. Sem esse dinheiro, teria de suspender (“contingenciar”) ainda mais despesas. Mas quem, se e quando, ó Senhor, vai comprar a Eletrobras neste colapso financeiro? É conversa fiada.

Com a popularização dos aplicativos de entrega como iFood e Rappi, ocorreu um processo de "uberizacao" da profissão de motofretista - Rivaldo Gomes/Folhapress

Sim, manter um programa de arrumação da economia pode ajudar. Aprovar a emenda constitucional do arrochão no serviço público era prioridade desde o ano passado para este governo que pretende manter o teto de gastos —trata-se de medidas que na certa vão implicar corte abrupto de despesas, em especial com o funcionalismo, assim que aprovadas.

Mas: 1) o governo faz baderna política, inclusive convocando marchas infecciosas contra o Congresso, e atrasou tudo; 2) o efeito do arrochão é, de imediato, “contracionista” (tira dinheiro da economia); 3) em catástrofes como agora, as leis brasileiras preveem maneiras de se gastar mais, provisórias.

ESTAMOS EM EMERGÊNCIA. Precisamos cuidar dos feridos, equipar hospital, comprar ventilador pulmonar para UTIs, máscaras para o pessoal da saúde. Precisamos alimentar os famintos que ficarão ao léu sem emprego, bico ou renda; precisamos evitar a falência dos milhões de pequenos negócios que empregam o grosso da gente.

O governo disse que vai adiar a cobrança de alguns impostos. Para informais, tanto faz. Para os negócios atropelados pelo paradão da epidemia, seria um alívio temporário. Sem faturamento, eles terão uma dívida adiada, sem caixa para cobrir.

Este texto começou tratando de restaurante. É motivo de preocupação na crise? É um exemplo de como não pensamos em como a economia real roda. Apenas na cidade de São Paulo, os serviços de alimentação empregam cerca de 373 mil pessoas, 6% dos empregados da cidade, segundo dados da prefeitura. Pense então em salões de beleza, barbeiros, pequenas lojas.

O governo conversa com as empresas aéreas, de fato problema grave. Mas o que vai fazer com quem voa baixo, os pequenos e micro negócios, que nem dinheiro no banco conseguem pegar a um custo que não seja extorsivo?

O Banco Central liberou dinheiro para os bancos, reservas que costumam ficar “presas” no caixa do BC. Em tese, assim teriam fundos para emprestar mais, renegociar dívidas, adiar cobranças.

Como diz o clichê sobre o assunto, a gente leva o cavalo até o rio, mas não pode obrigá-lo a beber. Os bancos vão emprestar? Se não houver outros meios de evitar tombo feio da economia, vão adotar alguma retranca no crédito. Por falar nisso, os bancos já têm “sobras” para emprestar. O dinheiro não sai porque é caro ou porque o banco julga que quem está pedindo empréstimo não merece crédito.

Bancos dizem que vão prorrogar o prazo de pagamento de dívidas. A ver. A que taxas de juros? A depender do tombo da economia e da taxa, a corda no pescoço fica adiada para mais tarde. No Natal?

Antecipar o 13° dos aposentados e pensionistas, além do abono salarial, medida anunciada pelo governo, é sensato. O problema é de quem vai ficar sem ganhar nada. O problema são os miseráveis que estão na fila do Bolsa Família, com a porta fechada na cara pelo governo, talvez 1 milhão de famílias. E aí, Guedes?

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