Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu Coronavírus

Na guerra da epidemia, hospitais não têm álcool, máscaras e roupa

Tem de haver dinheiro e competência para produzir meios de combate à praga do coronavírus

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Grandes hospitais se queixam de que faltam equipamentos básicos de proteção para o seu pessoal, em São Paulo ou no Amazonas. Trata-se de máscaras, óculos de proteção, aventais e, se ainda pudesse ser mais inacreditável, de álcool em gel.

Que há escassez do básico em hospitais e postos de saúde não é obviamente novidade. Mas, no meio da guerra dramática contra a epidemia, continua a faltar roupa elementar e antisséptico de modo desesperador, ao ponto de médicos e grandes instituições de saúde pública pedirem doações ao público. É um acinte.

A continuar a falta de equipamentos para o pessoal da saúde, estaremos diante de um caso de negligência ou incompetências criminoso, parecido com a traição em tempos de guerra. Não é aceitável em hipótese alguma que alguém tenha o desplante de dizer que falta dinheiro. Dinheiro terá de haver. Falta é organização competente. Cadê um comitê nacional para administrar a produção e distribuição de insumos?

Além de descaso fúnebre com os doentes, não providenciar equipamento para o pessoal de saúde é atirar contra os próprios soldados. É sabotar, antes do seu início, parte da grande ofensiva que pode mitigar o efeito devastador da epidemia sobre vidas, aqui e agora, e sobre a economia, também questão de vida e morte.

Não há solução econômica para o ataque da epidemia. Há paliativos, ainda que exijam gastos públicos e esforços privados gigantescos. Mas não haverá tentativa de volta a alguma espécie de vida econômica normal, ainda que deprimida, sem vitória na frente de saúde.

Em última instância, uma vitória ou pelo menos uma contraofensiva bem-sucedida depende de vacina ou imunização natural, ainda fora do horizonte. Antes disso, o sucesso parcial depende de que se encontre um remédio que trate de evitar muitas mortes e de proteger os mais frágeis, baixando a letalidade da epidemia. Com algum remédio disponível, a realização de testes em massa, de resto, pode auxiliar ou facilitar estratégias de confinamento mais direcionadas, específicas, em vez do trancamento dos negócios e das pessoas. Talvez aí a vida possa recomeçar.

Antes desses progressos ainda sonhados, dispomos apenas do pessoal da saúde, além da inteligência dos nossos epidemiologistas, médicos e especialistas em geral em epidemias. Precisamos conter as mortes e o medo paralisante. Para tanto, PRECISAMOS DA PRODUÇÃO EM MASSA DE EQUIPAMENTOS para hospitais e para o pessoal da saúde.

Todos os dias, ouvimos as estatísticas necessárias, mas terríveis, do número de feridos e mortos na epidemia. Onde estão os números do que falta para evitar essa desgraça? Quantos ventiladores e equipamentos para UTIs faltam? Máscaras? Um maldito e comezinho álcool em gel para o posto de saúde ou hospital de alta complexidade, até?

Gente de governos até outro dia falava que “não haverá testes suficientes” para exames em massa e para informar estratégias de contenção da epidemia. Agora, fala-se em 22,9 milhões de testes. Bom. Espera-se que não seja fantasia.

Alguma providência similar deve ser adotada para a produção e compra em massa de equipamentos médico-hospitalares. Se possível e necessário, fábricas devem ser convertidas para a produção desses insumos, como se fabricam armas contra um inimigo em tempos de guerra de fato.

Dinheiro? Arrume-se. Quem está fazendo continha mesquinha, de resto muito equivocada, mesmo economicamente, está sendo cúmplice da morte e da destruição econômica.

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