Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Governo Bolsonaro faz molecagem enquanto país tenta sair da ruína

Parte da economia volta ao azul, mas está ameaçada por fofoca e inépcia gerencial

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Há um Brasil que se recupera da calamidade econômica, no comércio e na construção civil, movido a auxílios emergenciais e juros baixos. Há estados em que o nível de emprego formal já é maior ou pelo menos igual ao do final do ano passado, caso de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Maranhão, Paraná e Santa Catarina tocados também pelos bons resultados do agronegócio.

Mas essa recuperação relevante está longe de segura. Um dos motivos é que há um outro país, aquele que se dedica à molecagem em redes sociais, caso de ministros de Jair Bolsonaro ocupados de criar crises com fofoca juvenil idiótica. O capitão, por sua vez, trabalha para sabotar até uma hipótese de melhoria nacional, a existência de uma vacina contra a Covid.

Um ministro principal, Paulo Guedes, entre outras incapacidades gerenciais, não consegue dizer se vai propor uma nova CPMF ou se o imposto está morto, isso durante uma algaravia em que chegou ao ponto desvairado de acusar bancos de financiar inimigos do teto de gastos, provocando nova crise intestina no governo. Sim, os bancos seriam inimigos do arrocho fiscal.

Ministros e os novos amigos de Bolsonaro, as cabeças do centrão, se ocupam de artimanhas para sentar nas cadeiras vazias ou novas da reforma ministerial que virá, se especula. Misturada nesse rolo está a disputa pelo comando da Câmara no ano que vem.

O país que se levanta da ruína deste ano de calamidade pode ser abatido por uma piora das condições financeiras: o dólar nas alturas e uma taxa de juros em alta no atacadão de dinheiro, que pode solapar investimentos ou coisa pior. A tensão é grande e pode explodir, com o recrudescimento da epidemia pelo mundo ou com decisões amalucadas ou incompetentes do que fazer com o Orçamento federal do ano que vem. Tais decisões foram adiadas por Bolsonaro e pela elite política para depois das eleições municipais, como se houvesse tempo para esperar até amanhã. Em parte, dependem de arranjos políticos, que por sua vez esperam o resultado de eleições, no Brasil e nos Estados Unidos.

Tais demoras e a longa duração da epidemia atrasam ainda mais a recuperação do setor de serviços, com faturamento 30% abaixo do que se via no ano passado. O Rio de Janeiro padece especialmente dessa ruína, sem contar a desordem política e administrativa local. É o estado mais atrasado na recuperação do emprego formal, por exemplo.

A confiança do consumidor e do comércio deu uma fraquejada em outubro, talvez um primeiro alerta de que a redução dos auxílios emergenciais deve diminuir também a velocidade da retomada. A ainda baixa circulação de pessoas em metrópoles como São Paulo indica que persistem o medo da doença e o distanciamento social por decisão voluntária de empresas, que há menos gente a andar pela cidade por falta de trabalho ou por causa das escolas ainda quase fechadas.

É fácil perceber que há tanto a fazer, no controle da epidemia e na apresentação de um projeto racional de saída da lama econômica, para nem mencionar que não se toca nem a rotina básica de governo. A cada dia, a uma fofoca se segue uma ideia demente ou inepta, que cai na Justiça, no Congresso ou por pressão de redes sociais.

É uma queixa ingênua, decerto. A desordem político-administrativa, fora o risco de golpeamento autoritário, era previsível e prevista desde 2018. A variação continua do desvario, nem tanto: boa parte do governo e do comando do país, em vários Poderes, agora se dedica a promover tumulto com mexerico e molecagem.​

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