Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu Eleições 2020

Eleição municipal abafa polarização e dificulta frente ampla contra Bolsonaro

Resultado das urnas torna ainda mais difícil a ideia de criar 'frente ampla' contra Bolsonaro

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Quem ganhou a eleição municipal? A mera massa de números de conquistas locais de cada partido não diz grande coisa.

Além do mais, as reviravoltas de Junho de 2013 e a vitória de Jair Bolsonaro em 2018 deveriam incentivar alguma modéstia na especulação e dos politólogos. Mas os resultados das municipais já motivam rearticulações, reavaliação de estratégias e reivindicações de poder.

O que parece menos incerto?

Em termos de prefeituras conquistadas, a esquerda se tornou nanica e mais fragmentada. PT, PC do B e PSB (esquerda rosa-chá) perderam muitas prefeituras; nesse quesito, o PSOL ainda praticamente inexiste. O PDT se manteve mal e mal.

A esquerda teve e pode ter outras vitórias simbólicas relevantes, abrindo uma fresta para respirar na tumba em que está metida. Terá disputas duras em Recife, Porto Alegre, Belém e Vitória e uma quase impossível, em São Paulo.

Ainda assim: 1) ficou evidente que o eleitorado de grandes cidades está disposto a caminhar no “campo progressista”; 2) partidos como o PSOL voltaram a fazer o papel da esquerda, que é levar o povo miúdo para o governo, como o PT já fez de modo extensivo um dia.

Faz década se fala em coletivos de periferias e movimentos renovados de minorias. Essas pessoas começaram a chegar ao poder, como na Câmara de São Paulo. É pouco, mas faz barulho e será uma inspiração.

As derrotas da esquerda encorparam a onda cinza. Partidos de centro, sublegendas do centrão, centro-direita e direita dominam ainda mais prefeituras. Nesse bloco, o poder também está mais disperso com a ascensão do PSD e a ressurreição do DEM.Diz-se que o MDB continua o partido majoritário, com mais cadeiras de prefeito. É verdade, na aritmética.

O partido perdeu muitas prefeituras. Nas maiores cidades, é medalha de bronze. Trata-se aqui dos 204 municípios que abrigam metade da população brasileira. Neles, o PSDB contou 32 vitórias (eleitos ou em primeiro lugar no primeiro turno), seguido de PSD (28), MDB (27) e DEM (19).Somadas essas 204 cidades ao bloco intermediário (as maiores de 20 mil habitantes), tem-se 85% da população.

Aí, os partidos líderes em prefeituras ou vitórias parciais são quase os mesmos. Pela ordem: MDB (244), PSD (211), PP (202), PSDB (195) e DEM (151).O sucesso do DEM foi o grande crescimento; na política parlamentar, ora lidera o conservadorismo tradicional.

O sucesso do PSD é o crescimento contínuo, agora firme também nas grandes cidades. Gilberto Kassab, líder e organizador dessa “start-up” do centrismo-centrão, diz que o PSD pensa em lançar candidatos a presidente e que Bolsonaro perdeu. Em suma, avisa ao governo e aos partidos com ambições para 2022 que o PSD tem de ser considerado no jogo, pois é time grande.

O PSDB também perdeu prefeituras. Mas está forte em grandes cidades e, para variar, no tucanistão (o estado de São Paulo, segundo a esquerda). PSDB, DEM e MDB vinham fazia um tempo com uma conversa meio mole de serem aliados em 2022; a depender do futuro de Bolsonaro, podem juntar também o PSD.Falta apenas ter o que dizer ao povo e arrumar um candidato (quem tem muitos, não tem nenhum).

Mas há ainda mais incentivo para que formem um bloco distinto do centrão e com força para disputar o governo federal —se organizar direitinho, todo mundo terá um carguinho.O que ficou ainda mais difícil, dadas as derrotas da esquerda e a baixa da “polarização”, foi a ideia de criar uma frente ampla contra Bolsonaro: ele perdeu agora, mas pode, quem sabe, se beneficiar dessa divisão.

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