Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Bolsonarismo é um método de fracasso, na economia de Guedes ou na vacina

Congresso evitou fracasso final do bolsonarismo na economia, mas não na vacina

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Jair Bolsonaro anda inquieto. É assim quando seu poder ou sua popularidade estão ameaçados; quando aumenta o risco de que sua família acabe na cadeia. Então passa a dizer mais atrocidades do que de costume contra a democracia, a razão, a decência e a humanidade.

Nos últimos dias tenta arrumar um bode expiatório para justificar a inexistência de vacinas e escamotear o desastre com uma cortina de fumaça, com o bafo fumegante da besta fera. Disse que quer facilitar o acesso a armas de fogo com o objetivo de facilitar insurreições armadas, por exemplo contra João Doria. Debochou, rindo como um psicopata, da tortura de Dilma Rousseff. Etc.

Cerca de três quartos dos brasileiros querem se vacinar. É difícil enganar tanta gente com fantasias lunáticas e propaganda criminosa. Há o risco de a incompetência e os crimes ficarem muito evidentes.

Desde meados do ano entrou em pane o “parlamentarismo branco”, um improviso que fez as vezes de governo no lugar de Bolsonaro. Se essa geringonça política estivesse funcionando, talvez até se pudesse inventar uma gambiarra parlamentar para a compra de vacinas, uma atribuição clara do ministério da Saúde, que, porém, não passa de um almoxarifado a cargo de uma ordenança incapaz. Agora não temos nem a geringonça nem ministério. Sobra então o bolsonarismo puro no poder.

Já vimos isso antes. Paulo Guedes é o bolsonarismo econômico. Não é uma doutrina, claro. Para resumir, é variante, na Economia, da propaganda de fantasias desvairadas associada à incompetência de ressentidos reacionários.

Quando bateu o pânico da epidemia, na segunda semana de março, Guedes dizia que “se promovermos as reformas, abriremos espaço para um ataque direto ao coronavírus. Com 3 bilhões, 4 bilhões ou 5 bilhões de reais a gente aniquila o coronavírus”. Ou “o mundo está em desaceleração sincronizada e o Brasil em plena decolagem [na economia]”. No início de abril, disse que conversara “com um amigo na Inglaterra que criou o passaporte de imunidade. Ele faz 40 milhões de testes. Ele coloca disponíveis para nós, brasileiros, 40 milhões de testes por mês".

O Congresso e pressões da sociedade enfim fizeram o auxílio emergencial de R$ 600, o que evitou fome, quebradeira catastrófica de empresas, saques, convulsão social e deve ter salvo o mandato de Bolsonaro. O programa teve problemas, até porque não foi organizado por um governo capaz, mas era o que tínhamos. Agora, houve um movimento de governadores e do STF para fazer com que o capacho da Saúde e seu chefe se movessem um tico. Não basta.

Guedes passou o resto do ano no delírio e na inoperância habituais. Volta e meia vinha com sua ideia de CPMF para reduzir impostos sobre folha de salários. Ou com as suas “privatizações de Nostradamus”, aquelas que, não se sabe bem quais, acontecerão em algum dia de algum século. Em julho, como em tantos meses antes e depois, Guedes dissera que o Brasil iria “surpreender o mundo” e que faria “quatro grandes privatizações nos próximos 30, 60, 90 dias”.

Talvez daqui a pouco, algumas centenas de ricos possam pegar seus jatinhos e se vacinar no “Primeiro Mundo”. Não vai resolver, já devem saber, porque a epidemia persistente trava a economia, assim como muitos já sabem que queimar a Amazônia e o Cerrado é problema. Qual ilusão ou cinismo pode restar? Não há governo, apenas propaganda lunática, planos de golpe, quiçá de algum tipo de guerra civil. A cumplicidade vai custar caro.

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