Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu juros

Bolsonarices, generais da morte e EUA causam tumulto em dólar, juros e no PIB

Mexida no teto abala mercado, mas mortes, EUA e bolsonarice econômica também

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A leitora e o leitor podem não gostar do “teto” de gastos, mas o dólar gosta. A moeda americana flutuava na estratosfera dos R$ 5,77 quando o comando do Congresso anunciou que cancelaria a manobra fura-teto que era conversada desde segunda-feira. Em cerca de meia hora, o dólar baixou até fechar em R$ 5,66.

Isso quer dizer que há relação previsível, precisa e constante entre mexer no “teto” de gastos e o dólar? Não. Quer dizer que é impossível mexer no “teto” sem levar o dólar à Lua e os capitais para fora do país? Não. Mas mexer no “teto” tem um preço. Simplesmente avacalhar a coisa toda com truque de jeca aumenta ainda mais esse preço.

Bolsonaro, Mourão e Braga Netto participam de cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília - Raul Spinassé - 24.fev.2021/Folhapress

Enfim, parte do tumulto que se vê no mercado desde a semana final de fevereiro tem a ver com o remanejamento de dinheiros e da percepção de riscos na economia americana (mais sobre isso mais adiante), com o paniquito do dos donos do dinheiro com a inflação brasileira, com as intervenções imbecis de Jair Bolsonaro na economia e com o risco de a atividade econômica ir para o vinagre com o morticínio crescente.

O Congresso queria tirar a despesa com o Bolsa Família daquelas que estão sujeitas ao “teto”, gasto previsto de R$ 34,9 bilhões neste ano. Na prática, criava-se a oportunidade de gastar esse dinheiro em investimento, em “obras”. Em um universo em que houvesse planejamento para tal mudança, em que houvesse governo, perspectiva de administração racional da política econômica, discutida em um país que tenta se civilizar, talvez essa decisão pudesse ser tratada de modo mais tranquilo. Nesta mixórdia brasileira, não dá. Os donos do dinheiro opinaram que o fura teto era avacalhação final e bateram em retirada. Quando o comando do Congresso noticiou que pelo menos essa besteirada não progrediria, o dólar caiu, a Bolsa quase subiu.

Faz uma quinzena, a finança americana joga com as hipóteses de crescimento acelerado nos EUA, de enxugamento da dinheirama que o BC deles (o Fed) lançou na economia e de que a inflação pode ir a um nível além do anormalmente baixo. No atacado de dinheiro de lá, as taxas de juros vêm subindo. O dólar se fortalece, moedas de outros países, em particular os danados feito o Brasil, se desvalorizam. O dólar em alta tem impacto na inflação daqui e, também por esse motivo, as taxas de juros no atacadão de dinheiro brasileiro têm ido a novas alturas.

Na prática, por meio dos preços do dinheiro, o povo do mercado está dizendo que a taxa básica, a Selic, tem de sair dos atuais 2% ao ano para 6% ao ano em fins de 2021 e para mais do que isso em 2022. Além de solapar o crescimento da economia, a antecipação forte e rápida da campanha de alta da Selic vai fazer com que a dívida do governo cresça ainda mais rapidamente. É a breca.

Como se não bastasse, Bolsonaro meteu a mão na Petrobras, de resto um indício que pode “baixar a repressão” em preços variados, o que causa incerteza e, no limite, retranca de investimentos, piora das expectativas de crescimento e, pois, acrescenta mais uns décimos na taxa de juros.

Tem mais. A desgraça ampliada da epidemia vai provocar ainda mais restrições de movimento e atividade econômica, por decisão oficial e por medo. A economia vai levar um tombo certo nos próximos 15 dias, pelo menos. O morticínio crescente é também cortesia do Exército de generais que servem de ajudantes de ordens de Bolsonaro, note-se. O capitão da extrema direita e seu governo militar estão atacando o Brasil em várias frentes: economia, saúde, razão, decência. É uma ofensiva de morte.

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