Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Brasil não vai conseguir acelerar entrega de vacinas de Covid até junho

É uma desgraça, pois estão morrendo mais de 2.300 pessoas por dia no país

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Afora milagres, não deve haver aceleração da entrega de vacinas contra a Covid-19 até junho. As perspectivas continuam as mesmas de fins de março e começo de abril. Algumas doses entraram no cronograma mais realista, outras saíram.

Entenda-se: é provável que a entrega de vacinas aumente, mas não em velocidade maior do que a prevista faz um mês e pouco. É uma desgraça, pois estão morrendo mais de 2.300 pessoas por dia no país (eram 700 por dia, em dezembro, por exemplo). Em abril, o número de doses entregues foi quase o mesmo de março, cerca de 26,6 milhões. Em maio, se tudo der muito certo, serão 38,5 milhões. Mas ainda é pouco e tarde.

Para piorar, Jair Bolsonaro está solto da casinha. A fim também de desviar a atenção da CPI da Covid, apoiou comícios golpistas, ameaçou baixar um decreto “incontestável” contra “lockdowns” e voltou a atacar a China. Um dos motivos pelos quais a vacinação não vai ser mais rápida até junho é a falta de matéria prima chinesa. Graças outra vez a Bolsonaro, a coisa pode piorar.

A perspectiva desse cronograma mais realista esperançoso é de que até o final de junho cheguem doses bastantes para vacinar quase 100% das pessoas dos grupos de risco do Programa Nacional de Imunização, pouco mais de 77 milhões de pessoas, quase metade da população de 18 anos ou mais do país.

Esse cronograma realista esperançoso depende da entrega de mais 4 milhões de doses do consórcio Covax neste mês de maio. Depende da chegada de mais de 11 milhões de vacinas da Pfizer/BioNTech em junho. Há uma promessa de que cheguem 15 milhões de doses desse imunizante no primeiro semestre. Mas chegou apenas 1 milhão em abril e o governo federal estima que venham só mais 2,5 milhões neste maio.

Um grande problema ocorreu com a entrega das doses da Coronavac, fabricada pelo Butantan. Em abril, o instituto paulista entregou 22,4 milhões de doses da vacina. Em maio, dificilmente entregará mais do que 5,1 milhões, fabricados com insumos (IFA) que chegaram em 19 de abril. O Butantan espera a entrega de mais IFA até 15 de maio, pelo menos o bastante para fabricar uns 5 milhões de doses. Se o IFA chegar até essa data, as doses ficam prontas apenas no fim de maio ou começo de junho. Ainda não há data para entrega de IFA em junho. Até abril, o Butantan vinha antecipando seus prazos. Agora, não se sabe o que vai ser.

A produção da Fiocruz engrenou e aumentou, compensando a falta de doses do Butantan. Há matéria prima para produzir até o início de junho.

Por ora, é o que temos: Fiocruz, Butantan e um tanto de doses via Covax e da Pfizer. Nada de Covaxin, Sputnik etc.

O país se acostumou a mais de 2.300 mortes por dia, ainda mais depois do relaxamento das restrições de abril. O que vai ser?

No estado de São Paulo, por exemplo, a situação parece ter parado de despiorar. Na verdade, os dados que indicam estagnação da epidemia em patamar muito alto são muito recentes, de cerca de uma semana. Pela fria estatística, não daria para afirmar nada, até porque os registros de mortes, casos e até de internações têm ruído, variações excessivas e devidas a problemas administrativos, entre outros. Mas a estagnação coincidiu com a reabertura no estado. Vamos produzir nova onda, nova variante nacional, importar alguma da Índia?

Sem acelerar a vacinação, de resto, a economia estará sujeita aos baques de nova onda, o que causa mais sofrimento. O dia das Mães, no próximo domingo, pode ser um motivo de repique, caso as pessoas não tenham juízo. Pelo amor de Deus, tenham.​

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