Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire

Ricos, pobres, impostos e pixulecos na queda de Bolsonaro

Pixuleco da vacina, baixa da popularidade e até reforma do IR aumentam tensão

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O plano de mudança do Imposto de Renda de Jair Bolsonaro não pegou nada bem entre ricos, financistas, tributaristas variados e entre a classe média-rica que já se deu conta do que se passa. Para ser justo, reforma tributária quase alguma faz sucesso de público, pois ainda se está para ver mudança quediminua
imposto em regra, em geral.

No entanto, não importa o motivo, se interesse cru ou crítica à técnica tributária ruim dessa reforma, a reação vai chegar ao Congresso.

A pressão na política da tributação vai aumentar, pois já ocorre briga feia por causa da criação da Contribuição Sobre Bens e Serviços (CBS), que aumentaria impostos de certos setores empresariais.
O benefício indubitável da mudança no IR vai apenas para os futuros isentos, talvez 5 milhões de contribuintes. O pessoal de baixo da pirâmide daqueles que pagam IR pode até pagar mais. A maioria restante do país, que mal sabe o que é renda ou vive no aperto muito sofrido, menos ainda
ligará para Imposto de Renda.

Entre os mais pobres, há dor e fúria contra o imposto disfarçado, mas que sentem na carne, o imposto inflacionário. Na pesquisa Ipec divulgada na semana passada, 68% daqueles que ganham até um salário mínimo não votariam em Bolsonaro “de jeito nenhum”. Desde o início deste governo, a inflação da comida (de “alimentos no domicílio”) aumentou 30%, cerca de três vezes o aumento da renda médio do trabalho, que também é uma miragem para dezenas de milhões.

O entendimento da mudança do Imposto de Renda ainda depende de muitos cálculos complicados. Outras pesquisas de opinião vão dizer o estado atual da fritura de Bolsonaro, que não deve ter melhorado
com as revelações de parte de suas mumunhas com o centrão.

A despiora da economia e da vacinação podem vir a contrabalançar a derrocada. Bolsonaro talvez consiga recuperar pontos de prestígio fazendo favores a partes do eleitorado e a seguidores fanáticos. Mas, nas últimas semanas, a situação tem ido para o vinagre.

E daí? Muito depende de política. Até agora, o centrão estava alegremente alheio ao aumento da revolta nacional, cuidando dos próprios negócios corporativistas em troca de algumas “reformas” avacalhadas. As elites autoras de “cartas de repúdio” e outros adeptos da vaporosa ou fantasmagórica “terceira via” estão quietos.

No entanto, há piadas sobre Hamilton Mourão ter saído do banco de reservas para o aquecimento, para entrar no jogo do impeachment. Há especulações muito fantasiosas sobre a possibilidade de elites aderirem à deposição de Bolsonaro a fim de enfrentar Lula da Silva com uma candidatura limpinha, “terceira via”.

De mais objetivo, há o fato de que o rolo da Covaxin chegou ao núcleo do governismo, a Bolsonaro e a comandantes do centrão. Confirmações de que Lula está ainda mais à frente na corrida eleitoral e de que o prestígio de Bolsonaro ronda os 20% podem aumentar o número de desgarrados políticos —Lula já está colhendo vários desses frutos.

Um esteio de Bolsonaro pode ser seu eleitorado fanático, que impediria sua descida ao inferno das impopularidades presidenciais recordes. As “ruas” podem ser outro alívio na derrocada, pois o movimento é limitado pela epidemia e pelo fato de, até agora, ser conduzido pela esquerda —a “terceira via” se omite.

Caso houvesse ao mesmo tempo “ruas”, barata avoa de CPI, cheiro podre de corrupção e fome (que há), Bolsonaro teria mais dificuldade de se segurar. Sem política e adesão variada à oposição ativa, “frente ampla”, o momento “bola de neve” pode passar.

vinicius.torres@grupofolha.com.br

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