Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu inflação juros Selic

Sua casa, sua vida, os juros do Banco Central e Bolsonaro

Perspectiva de mais altas da Selic pinga mais uma gota de azedo no ano eleitoral de 22

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Desde agosto do ano passado, a média das taxas de juros de mercado para financiamento de imóveis anda em torno de 7,7%, perto das mínimas históricas. A informação mais recente dessa estatística compilada pelo Banco Central é de abril. O custo do dinheiro para comprar casa vai ficar nessa paz? Hum. O custo de financiar um carro já começou a subir, na média.

O BC tem elevado a sua taxa básica de juros (Selic) de modo acelerado e o andar da carruagem pode ser ainda mais rápido. Em março, a Selic era de 2% ao ano. Na semana passada, foi a 4,25%. A expectativa era de que fosse a 6,5% no fim deste 2021. Na exposição de motivos para alta da Selic da semana passada (“Ata do Copom”), publicada nesta terça-feira (6), há indícios de que vá além, talvez 7%, isso se a inflação e riscos altistas não forem atenuados.

Uma alta de 5 pontos percentuais na Selic em 10 meses deve contaminar as taxas do financiamento imobiliário. Algum repasse haverá. Apesar de a competição dos bancos por clientes desse setor ter aumentado, o custo da “matéria prima” bancária, o “custo de captação”, do dinheiro, terá dado um salto considerável. Mas a questão aqui não é futurologia sobre o mercado imobiliário, mas um exemplo menos abstrato de que o aperto monetário do Banco Central deve chegar ao varejo do crédito e, portanto, deve abalar perspectivas de crescimento em 2022, tudo mais constante.

O capital de giro do pequeno empresário vai ficar, além de salgado, azedo. Já encarecido por filas, alta de custos e restrições de produção, o carro vai ficar ainda mais caro por causa do financiamento. Etc.

Considerado o histórico de taxas de juros no Brasil, é muito improvável que essa campanha de altas da Selic chegue ao menos perto do nível onde essa taxa estava em novembro de 2016 (14% ao ano). Mas a alta vai pesar no ano que vem, em uma economia que mal terá recuperado as perdas de 2020, que ainda não recuperou as perdas de 2015-2016, que despiora em ritmo muito desigual e criando ainda mais desigualdade.

A “Ata do Copom” enfatizou que o BC pretende levar a inflação à meta de 3,25% em 2022 (a deste ano será estourada além do teto). Além disso, explicitou que a diretoria discute aumentar o ritmo de altas da Selic, dos já rápidos 0,75 ponto percentual por reunião para (segundo especulação de gente mais animada na praça) 1 ponto já em agosto.

O fato de a dívida pública estar subindo menos (graças principalmente à inflação) e o dólar estar zanzando agora em torno de R$ 5 não refrescam o cenário de inflação, pressionado ainda por eletricidade em alta, alta de custos da indústria (até por falta de insumos) e, claro, porque a economia se recupera mais rápido do que o esperado do buraco em que caiu em 2020.

Para que fique claro, a perspectiva de os juros talharem parte do crescimento é para o ano que vem, embora aqui e ali em 2021 vá se sentir o efeito direto do aperto monetário.

No “balanço de riscos” das perspectivas eleitorais de Jair Bolsonaro, pesam, pois, elementos novos. De um lado, a despiora rápida do PIB prevista para 2021 vai provocar grande alívio para boa parte da população. Por outro, a inflação da comida terá efeito duradouro sobre a renda dos mais pobres, a conta de energia vai pesar mais (afora a tensão da conversa sobre risco de racionamento) e, definitivamente, a alta de juros no atacado vai aparecer nos financiamentos do varejo. É mais incentivo para Bolsonaro apressar seus “pacotes sociais”.

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