Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire

Pessimismo desinformado ignora avanço da vacinação e novo drama da epidemia

Piora no número de mortes e contaminação já dura quatro meses

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A lambança de São Paulo na semana retrasada animou avaliações pessimistas desinformadas sobre a vacinação no estado e no Brasil. Haveria menos doses disponíveis, menos doses para o governo paulista e a prefeitura paulistana teria um calendário inexequível, dizia-se. Não é verdade.

O Brasil tem poucas doses por causa da perversidade criminosa de Jair Bolsonaro. Dado esse limite, houve avanço mais veloz em junho. O prognóstico para julho é bom. Os planos de aplicação acelerada da primeira dose, como os de São Paulo ou Rio, podem dar certo. O risco cada vez maior é de que esse plano leve uma rasteira da variante delta (antes dita indiana) e de outras cepas agressivas que se avizinham.

Em junho, o número de doses distribuídas aos estados aumentou 14% em relação a maio. Foi o maior até agora. Os brasileiros recebemos 1,1 milhão de doses por dia em junho (o recorde anterior fora em abril, com 821 mil doses diárias).

Em junho, São Paulo recebeu 21,2% das doses distribuídas pelo país (o estado tem 21,9% da população nacional, na projeção do IBGE, mas isso não é lá muito preciso). Ou seja, distribuição equânime.

Se mantiver o ritmo de vacinação diária do início de junho até agora, o estado de São Paulo cumprirá o objetivo de dar a dose 1 a todos os adultos até 1º de setembro (antes da meta de 15 de setembro); a capital, um par de dias depois. O Brasil daria dose 1 a todos de 18 anos ou mais no final de setembro.

Vai dar certo? Tem dado. Como se sabe, o futuro do plano depende de chegarem as vacinas previstas no cronograma do ministério da Saúde. No papel, haveria doses até para antecipar ainda mais esse calendário. Por ora, é possível fazer previsão realista apenas para julho.

O Butantan tem matéria-prima para fazer os 10 milhões de doses previstos para julho e já entregou outro milhão de doses prontas, que ficaram para este mês. A Fiocruz já tem insumo para fabricar 12 milhões de doses (das 15 milhões previstas pelo governo até faz pouco). Há uma “sobra” de Janssen, que a incompetência federal deixou dormindo no estoque. São 3 milhões de doses únicas. Para efeitos práticos e para comparar bananas com bananas, equivalem a 6 milhões de doses de Pfizer, AZ ou Coronavac.

A entrega dos 15 milhões de Pfizer seria a incógnita maior. Mas a empresa tem entregue o produto no prazo, se não antes, controla seus insumos, sofre pouca influência de governo e está sobrando vacina nos EUA.

Butantan e Fiocruz se dizem otimistas quanto a agosto –receberiam insumos da China no prazo. Mas sabe-se lá. No papel, só de Pfizer chegariam mais de 34 milhões de doses em agosto e outro tanto em setembro.

Em suma, dentro da nossa miséria vacinal, a perspectiva é de avanço até entrado agosto. O problema é o descontrole da epidemia.

Estamos faz quatro meses na “segunda onda”. Em São Paulo, esse horror começou no início de março, teve pico em abril e continua até agora. O número de internados em UTIs tem baixado, mas ainda é de 9.833. É o menor desde 16 de março, mas, em novembro, chegou a ser de menos de 3 mil. Ainda morrem 506 pessoas de Covid por dia no estado. No final de outubro, eram cerca de 90 por dia.

A disseminação do vírus ainda é grande, talvez menos mortífera nos dias recentes porque muita gente já foi infectada e/ou tomou dose um ou as duas doses. Mas há variantes agressivas do vírus rondando. Não temos imunizados bastantes ou organização para combatê-las. A Europa tem e ainda assim sofre o drama. Vamos conversar em breve sobre isso, aqui.​

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