Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire

Entenda que bombas podem explodir na economia até 2022

Resultado do segundo trimestre diz nada sobre o futuro, que depende de política, chuva e EUA

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O que dizem os números do PIB do segundo trimestre? Básica e francamente, nada. Nada de novo, apesar da espuma do noticiário: a economia despiora, deve crescer uns 5% neste 2021, embora metade do povo deva ficar para trás, em parte na fome. A fim de tentar saber um pouco do que será da economia, em particular em 2022, temos de olhar para outra parte:

1) arranjos e mutretas que Jair Bolsonaro vai conseguir aprontar com Orçamento de 2022 e outras medidas eleitoreiras;

2) o tamanho da baderna que resultará da campanha golpista, mais e mais estimulada pelo enrolamento progressivo da família Bolsonaro com a polícia e a Justiça;

3) a falta d’água e de eletricidade, problema que de um modo ou de outro vai durar até pelo menos março de 2022, afora dilúvios;

4) a economia internacional;

5) o efeito disso tudo na taxa de câmbio (no “preço do dólar”) e, por tabela, na inflação.

Bolsonaro precisa arrumar uma folga de pelo menos R$ 50 bilhões no Orçamento de 2022, a fim de pagar a engorda do Bolsa Família e emendas parlamentares. Para tanto, pretende dar um calote provisório nos precatórios. Até agora, conta com a ajuda de Luiz Fux, ministro e presidente do Supremo, que apresentou a ideia de moratória legalizada a fórceps. Pode não acontecer, pelo tamanho do descaramento e porque o Supremo pode modular sua boa vontade de acordo com o teor dos comícios golpistas do 7 de Setembro.

Mas a mumunha orçamentária e seus impactos no ritmo de endividamento do governo vão muito além disso. Na síntese que consta de uma nota dos economistas do Bradesco, é o seguinte. “Os riscos fiscais voltaram a interromper a melhora nas perspectivas para a economia e para os preços de ativos [dólar, ações, títulos da dívida pública]”.

Quais “riscos”? “A lista de temas fiscais é extensa: precatórios, reajuste do bolsa família, perda de arrecadação com a reforma tributária, desoneração de PIS e Cofins para combustíveis, dentre outros. Além desses, o espaço orçamentário previsto [dinheiro para gastar] no teto de gastos de 2022 vem se reduzindo conforme avançam as expectativas de inflação para 2021 [pois mais inflação eleva a despesa com a Previdência]. O que está em jogo, em última análise, é a manutenção do atual arcabouço fiscal [o teto, em particular]”, diz o pessoal do Bradesco. O que vai entre colchetes é observação deste jornalista.

Na noite desta quarta-feira estava para ser votada a reforma do IR, a mixórdia apresentada por Paulo Guedes que virou uma salsicha com recheio ainda desconhecido da Câmara. Pode tirar receita do governo, fora outras implicações (a reforma é ruim). A coisa pode cair no Senado, que também na quarta-feira jogou no lixo a reforma trabalhista à matroca proposta por Guedes e aprovada pela Câmara dominada pelo centrão bolsonarista de Arthur Lira. Ou seja, a receita e a despesa federais estarão ainda mais sujeitas ao salseiro político.

A partir de novembro, o Banco Central dos EUA, o Fed, pode diminuir o total de dinheiro que coloca na praça (na prática, subsidia taxas de juros privadas e para o governo); quem sabe indique quando começa a elevar juros. Pode ser um salseiro, como em situação parecida 2013, que bateu pesado na finança e da economia daqui. Além do mais, a depender do ritmo de crescimento de EUA e China e do preço das commodities, o crescimento deve ficar um tanto mais prejudicado por aqui também.

Quanto mais zorra fiscal, mais baderna golpista, mais risco de apagão e mais tensão financeira mundial, pela ordem, mais desvalorizado o real ficará, mais difícil será conter a inflação, mais aperto financeiro haverá.

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