Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu congresso nacional

Bolsonaro no centrão, vitória do bolsolão, Moro e nada de ômicron

Presidente volta a seu ninho, moristas de elite fundam bolsonarismo sem Bolsonaro

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Jair Bolsonaro está onde sempre esteve. Na terça-feira, filiou-se ao PL. Na plateia, estavam também o PP ("Progressistas") e o PR ("Republicanos"), ali na fila do gargarejo, passando pano sujo e batendo palmas para a dança dos infames. Bolsonaro foi procurar sua turma, os partidos campeões do mensalão, do petrolão e, agora, do bolsolão, o puro creme do milho do centrão.

Por estes mesmos dias, o Congresso está dando um jeito de descumprir uma determinação do Supremo sobre emendas parlamentares. São aquelas que pagam o aluguel do centrão e ajudaram a evitar o impeachment de Bolsonaro. São as tais emendas de relator (na prática, a cúpula do centrão distribui dinheiros do Orçamento para obras na região dos amigos).

Não se vai saber quem levou as emendas pagas no ano passado e vai ser possível dar um jeitinho de abafar as do ano que vem. Tais como as despesas gordas do cartão corporativo de Bolsonaro, as despesas para adquirir apoio no Congresso também serão secretas. É o bolsolão. Apenas ainda não vimos direito o que tem dentro desse bolso.

Jair Bolsonaro durante cerimônia do Programa Nacional de Escolas Cívico-Militares - Ueslei Marcelino/Reuters

Toda aquela gente que fazia chacrinha histérica, lacerdista, janista e collorista contra a corrupção está quietinha, aquela gente que votou ou vota em Bolsonaro. O Congresso tenta sair de fininho, tenta abafar o caso.

Parte dessa gente de espírito lacerdista, janista, collorista e bolsonarista, quando não apenas dinheirista, está onde sempre esteve, embora alguns tentem disfarçar. Donos do dinheiro grosso e militares em particular tentam promover a candidatura de Sergio Moro a fim de que esse ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro faça pontos nas pesquisas bastantes para desanimar os demais candidatos a "terceira via".

Saíram do hotel da extrema direita para a pousada da direita extrema, que é o bolsonarismo sem Bolsonaro. Saíram sem pagar a conta, que deixaram para o país que estrebuchou de Covid, passa fome e por muito tempo vai ter de lidar com uma administração pública em ruínas em muitas partes (educação, ciência, tecnologia, saúde, ambiente, cultura etc.).

São dias de ômicron, a variante nova do coronavírus. Não se sabe quão perigoso é o bicho, mas o governo, claro, nem tenta passar a impressão de urgência, de que discute ou toma providências para conter o risco de eventual nova desgraça. Como em tudo mais, afora por esforços da burocracia profissional, não há governo. Os dias da ômicron são dias de festa do centrão, da fundação do nacional-mensalismo, o casamento teratológico de Bolsonaro com próceres do mensalão, e do novo truque populista da elite.

O bolsonarismo sem Bolsonaro, endinheirados, milicos e outros companheiros de viagem, é em grande parte um antipetismo. Mais importante, encaixa-se na tradição antipolítica, que sempre foi autoritária, ainda mais nesta sua encarnação. Eles estavam todos lá quietinhos no governo enquanto Bolsonaro pregava golpe ou defendia tortura e a ditadura militar, entre outros horrores.

Nas suas outras encarnações, janismo, collorismo, bolsonarismo, jamais tiveram o que dizer ao povo miúdo, fora demagogias santarronas e moralistas. Sim, moralistas, pois de um modo ou de outro sempre se beneficiaram deste arranjo brasileirinho que é uma economia de mercado de favores regulados por um Estado capturado, em um ambiente de incivilidade econômica e social geral. Ainda pior, do ponto de vista deles mesmos, jamais conseguiram mesmo tocar um projeto econômico que fizesse sentido.

Do jeito que está, o bolsonarismo sem Bolsonaro, o morismo, é apenas mais uma versão desse truque. Na eleição de 2018, deu em morticínio, ruína e bolsolão.

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