A impopularidade de Jair Bolsonaro diminui um pouco, segundo a pesquisa Quaest para a Genial Investimentos feita na primeira semana de dezembro. A avaliação negativa caiu de 56% para 50% de novembro para este mês. Baixou mais em todas as regiões do país, menos no Nordeste, onde ficou na mesma (61% de negativo). A margem de erro dessa pesquisa é 2,2 pontos, para mais ou menos.
A rejeição na urna continua quase na mesma e enorme: neste mês, 67% dos entrevistados diziam que não votariam em Bolsonaro; em novembro, 64%. Mas ele estancou a sangria, mesmo com tanta morte, fome e inflação.
Uma pesquisa apenas ou uma andorinha não fazem um verão de melhoria de prestígio presidencial. Tentar explicar motivos de variação de voto já é difícil levando em conta períodos longos, que dirá de um mês para outro. Mas convém prestar atenção.
Há alguma melhoria objetiva nas condições sociais e econômicas de vida? Nada que tenha mudado de modo relevante de novembro para dezembro, para melhor ou pior.
A inflação continua rodando na casa de 10% ao ano, embora a carestia da comida tenha desacelerado um tico. Mas isso não é, em si, relevante, pois os preços continuam aumentando. O salário médio real está caindo.
Para 70%, Bolsonaro lida de modo negativo com a inflação, na pesquisa Genial/Quaest; na "geração de novos empregos", a avaliação é negativa para 51%. No "combate à Covid", 47%.
De um ano para cá, o número de pessoas com algum tipo de trabalho aumentou em 9,5 milhões. É relevante, mas vem de longe. Talvez a percepção mais persistente de que seja possível outra vez viver de trabalho tenha diminuído o mau humor. Ainda assim, o bico (trabalho "por conta própria") é cada vez mais comum (era a ocupação de 22% do total de empregados nos anos ainda bons de 2012 e 2013; é de 27% agora).
Desde meados de setembro, Bolsonaro passou a fazer e a dizer menos atrocidades em público, seguindo recomendação de seus amigos e cúmplices do centrão, os regentes de seu governo. Suspendeu os comícios golpistas. A vociferação de cretinices e insultos é menos frequente, assim como o noticiário mais gritantemente negativo. Pode ser um motivo.
Tudo mais constante e pensando em perspectivas econômicas, insuficientes para tratar de política, 2022 é um problema.
A inflação pode despiorar (cair do ritmo de 10% ao ano para 5%, no mês da eleição), mas o refresco será pequeno (levaria anos de bom crescimento para que os salários, ainda mais dos mais pobres, recuperasse o poder de compra perdido na inflação Bolsocaro).
O número de pessoas ocupadas, com algum emprego, vai aumentar de novo em 2022, mas muito mais devagar, pois o ano será de estagnação do PIB, na melhor das hipóteses.
O Auxílio Brasil vai pagar benefícios maiores (o dobro, na média) para quem estava no Bolsa Família (14,6 milhões) e para outros 2,4 milhões de novos beneficiários. Mas vai deixar na chuva cerca de 20 milhões de pessoas que recebiam o Auxílio Emergencial.
Enfim, a soma dos dinheiros distribuídos por esses benefícios de assistência em 2021 será mais ou menos a mesma a ser paga pelo Auxílio Brasil em 2022. Difícil fazer a conta do saldo político-eleitoral, mas não deve ser grande coisa, pró ou contra o governo.
O fato é que Bolsonaro estancou a sangria. Por vezes, dezembros melhoram a imagem dos governantes nas pesquisas; depois das festas, os humores dão uma piorada, mas está longe de ser regra. Apesar de rejeitado por dois terços do eleitorado, sob o risco de Sérgio Moro tirar-lhe mais uns pontos, sem ter o que mostrar de realizações em 2022, fora mais mentiras, o candidato Bolsonaro ainda respira.
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