Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu datafolha

Bolsonaro perde para si mesmo, mostra número mais relevante do Datafolha

Cerca de 60% do eleitorado não votaria de jeito nenhum no presidente

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A rejeição a Jair Bolsonaro (PL) parece o fato mais relevante do Datafolha sobre a eleição de presidente. Faltam pouco mais de nove meses para o primeiro turno, ainda haverá dança de candidatos e, não raro, os números de dezembro se desfazem ao longo do ano eleitoral. Por ora, de mais importante, a pesquisa mostra que Bolsonaro perde para si mesmo quando fica sozinho no palco.

Em segundo lugar, o Datafolha mostra que os candidatos de terceira ou quinta via não fazem cócegas nos líderes da disputa, Lula e esse tipo que ocupa a cadeira de presidente.

A questão decorrente é o que Bolsonaro vai aprontar no desespero, caso a grande repulsa persista até meados do ano que vem. O governismo tem poucos recursos políticos decentes ou normais para reverter a situação.

Os pré-candidatos Jair Bolsonaro, Lula, Sergio Moro, João Doria e Ciro Gomes
Os pré-candidatos Jair Bolsonaro, Lula, Sergio Moro, João Doria e Ciro Gomes - Alan Santos/PR, Divulgação, Agência Senado, Pedro Ladeira e Eduardo Knapp/Folhapress

À beira de 2022, 60% dos eleitores dizem que não votariam "de jeito nenhum" em Bolsonaro. Entre os mais pobres, com renda familiar menor do que dois salários mínimos, a rejeição é de 64%. Na região em que no momento causa menos repulsa, a Sul, a rejeição é de 54%. Caso vá para o segundo turno, Bolsonaro perde até para João Doria (46% a 34%), que marca apenas 3% ou 4% na votação de primeiro turno.

Lula (PT) e Doria (PSDB) são rejeitados por 34%. Sergio Moro (Podemos), por 30%.

Como a rejeição a Bolsonaro poderia diminuir (o que significa convencer mais pobres de que não é repulsivo)? O que fará se continuar tão derrotado lá por meados do ano que vem?

O governismo espera que o Auxílio Brasil dê alguns pontos a Bolsonaro. O fim do auxílio emergencial para uns 20 milhões de pessoas, porém, deve tirar outro tanto. No "tudo pelo social", tem quase nada mais a tirar da cartola.

Na melhor das hipóteses, a taxa de inflação deve diminuir, mas o estrago acumulado da carestia, não (não haverá aumento de salário relevante). Mais gente deve estar empregada no ano que vem, mas o crescimento do emprego será bem menor do que o deste 2021 e, na prática, muito ganho virá de bicos, outros improvisos e arranjos desesperados.

A conversa de Bolsonaro terá de ser a de costume: mentiras criminosas, propaganda caluniosa de conspiração comunista, contra a família, contra o "nosso grande Brasil" e acusações gerais de corrupção (mesmo que, até lá, apareça algum resultado dos processos sobre rachadinhas ou Bolsolão). A campanha imunda viria, claro, por meio de tentativas de fraudar os limites legais de uso das redes sociais.

Pode ser que a sujeira funcione. Considere-se ainda que haverá tentativas outras de triturar Lula na campanha, a não ser que o petista consiga fazer o seu acordo com o "centro". Por ora, tal arranjo se resume à tentativa de repetir o truque do "vice confiável" (Geraldo Alckmin). Mas, tanto para enfrentar a campanha e, muito mais sério, para governar, o acordo terá de ser muito mais amplo e fundamentado. O risco de naufrágio precoce de qualquer governo e do país, já em 2023, é enorme.

Enfim, pergunta que não é de todo gratuita, é possível que, em vez de Lula conseguir aliados, se forme uma coalizão contra o petista, com extrema-direita, com tudo?

No caso de continuar repugnante para a maioria, Bolsonaro iria até o fim? Acreditaria que poderia virar o jogo com alguma fraude digital ou revolta incitada contra seu adversário, mais provavelmente Lula? Mesmo se estiver à beira de nem ir para o segundo turno? Tentaria uma medida desesperada, uma confusão político-policial-militar qualquer, violência? Ou começaria a pensar que, derrotado, não é tão pequeno o risco de que ele, filhos e seus comparsas generais passem pelo menos uns dias na cadeia? Até Michel Temer, o "pacificador nacional", ficou um tempo de molho.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.