Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu STF

PT que bate em Alckmin não quer pensar em reformas civilizadas

Partido tem seus motivos políticos, mas dá sinal também de que não quer mudar

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Petistas eram de Marte, e tucanos eram de Vênus. Parecia distância astronômica das maiores quando se dava de barato que a democracia não iria para o vinagre.

Depois de 2013, o caldo azedou até o ponto de se descobrir que, na lonjura dos infernos de Plutão, mora a extrema direita.

Inventar coalizões que tentem preservar a democracia a partir de 2023 é o mínimo que se espera dos candidatos do universo da razão e da decência elementares.

O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante encontro em dezembro, em São Paulo
O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante encontro em dezembro, em São Paulo - Ricardo Stuckert - 19.dez.21/Divulgação

Um caso pode ser o da aliança do PT com Geraldo Alckmin e partidos e quadros que o ex-tucano possa atrair para a órbita de Lula da Silva. Mas, como é cada vez mais gritante, Alckmin desce quadrado, se desce, para muito petista e boa parte da esquerda.

Primeiro trata-se de uma disputa de poder: o PT não quer que gente de fora vá bicar um governo que, imagina, vai receber de bandeja em outubro; não seria preciso dar lugar para a direita (fora o centrão que receberá cargos caso Lula vença). Mesmo que a maioria dos petistas vá parar de tossir e mugir quando Lula bater o martelo, a ideia é vender caro a insatisfação.

Segundo, trata-se mesmo de diferença política, ideológica e de velhos acertos de contas, pois PT e PSDB paulista foram adversários de quase morte.

Terceiro, é um indício de que muito petista e companheiro de viagem acha que "os bons tempos vão voltar" ou que Lula 3 pode ir além das concessões que teria havido durante Lula 1 e 2.

Este jornalista já ouviu petista "histórico" fazendo comparação anacrônica de Lula com os Getúlio Vargas de 1930-45 e o do governo "nacional e popular" (diz a lenda) de 1951-54. Quase nenhum eleitor terá ideia do que se trata, mas não caiu bem.

Essa e outras conversas sugerem que o grosso do PT não tem lá muita preocupação com os problemas que a "direita" quer resolver com suas "reformas". No entanto, esses problemas emperram o país faz mais de 40 anos.

Pouco se ouve, ou ouve-se com tédio ou arrepios, a respeito do que Lula 3 faria dos problemas de eficiência econômica, sem o que não haverá crescimento e talvez nem democracia.

É preciso dizer o que vai ser feito de aumento da concorrência, da qualidade da alocação do capital (da escolha dos investimentos produtivos pela iniciativa privada). Para tanto, é preciso pensar o que fazer de abertura comercial, de reforma tributária, de subsídios e favores, de facilidades de investimento: de ter uma economia de mercado funcional. São apenas uns poucos exemplos cascudos, pois o crescimento depende de muito mais.

Um motivo para colocar Alckmin na chapa de Lula seria também "tranquilizar o mercado", essa frase idiota. Se Alckmin for um vice decorativo, para inglês ver, tanto faz. Se levar partidos e quadros, melhor (importam agora alianças quaisquer contra os hunos). Mas indicar uma reflexão nova do PT sobre os problemas do crescimento seria essencial.

Não quer dizer que o governo do PT deva ser um "Ponte para o Futuro", "neoliberal", com esmolas. Quer dizer apenas que é preciso mudar essa economia caquética, disfuncional e organizada por favores.

Rejeitar alianças é, mais do que soberba jeca, sinal de passadismo e de esquecimento de erros e desastres dos anos petistas. Bater em Alckmin (ou coisa que o valha) é indício dessa amnésia com burrice.

Coalizões, a do PT ou outras, são necessárias para levar a democracia adiante. Mas são um meio também de agregar quadros diversos e capazes a fim de pensar de modo novo e mais civilizado a reforma da economia, reforma sem aspas "liberais".

Por fim, é uma questão pragmática: sem planos viáveis para déficit, dívida, eficiência, o governo pode começar a acabar já em 2023. É preciso inventar uma geringonça brasileira.

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