Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu inflação juros

Gasolina foi cara sob Lula e Bolsonaro, mas antes cabia mais coisa no salário

Preço de combustíveis em qualquer governo depende de dólar, mercado mundial e política

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O preço médio da gasolina sob Lula 2 era equivalente ao do governo Bolsonaro antes da epidemia e até mesmo em fins de 2020. O diesel era um tico mais caro. O gás de cozinha, mais barato. A guerra fez estrago decisivo. Trata-se aqui de preços corrigidos pela inflação para o consumidor, o IPCA.

Sob Dilma 1 (que fez tabelamento informal e teve dólar amigável) e Temer (que liberou geral), diesel e gasolina eram mais baratos. A conta muda pouco se a gente medir o poder de compra do salário mínimo ou do salário médio em termos de combustíveis, vide gráfico.

Essa história dá o que pensar sobre preços importantes, combustível e comida. Dependem de dólar e preço mundial, sempre, e de políticas, várias com danos colaterais graves, como tabelamentos e subsídios perversos.

Funcionário faz alterações em preços de combustíveis em São Paulo, após anúncio de mega-aumento da Petrobras - Rivaldo Gomes - 10.mar.2022/Folhapress

Também dá o que pensar a respeito da burrice demagógica sobre Petrobras e privatizações, em parte retórica eleitoral. O risco é de que outra parte seja prenúncio de ideias que esquerda e direita queiram reaplicar em 2023, tolas faz 50 anos.

Preços da comida também subiram muito sem político ter faniquito. A inflação média na epidemia, de fevereiro de 2020 a fevereiro de 2022, foi de 16%. A do arroz, de 40%. Do músculo de boi, 50%. Do óleo de soja, 109%. Gás, etanol e diesel, 47%. Gasolina, 45%.

Mais ou menos nesse período, o salário médio nominal (sem considerar inflação) subiu apenas 4%. Sob Lula, o diesel também era caro, mas passou a caber mais coisa no salário, por motivos domésticos e internacionais (como a queda relativa de preços da indústria). A questão maior é a ruína que vem desde 2014, mas que estava plantada antes disso. Meter a mão na Petrobras é solução ruinosa para um problema que é outro.

O Brasil exporta carne, soja e milho de sobra. É "autossuficiente", como deveria ser em diesel, dizem nacionalistas antieconômicos, ingênuos ou picaretas. Deveria também tabelar preços ou impedir exportações de grão e carne? Não temos uma Boibrás ou uma Embramilho, mas o governo poderia aprontar. Com preço limitado, o produtor investiria em mais produção ou produtividade?

Houve um choque extraordinário de preços na epidemia, choque altista a partir de maio de 2020, quando a inflação no Brasil era de 1,8% ao ano. Foi a 4,5% ao ano em dezembro de 2020. A 10% em dezembro de 2021.

Em boa parte, a alta resultou de uma combinação incomum de preços de commodities (grãos, petróleo etc.) em alta com dólar também em alta. O real foi a moeda que mais perdeu valor do início da epidemia a dezembro de 2021: o dólar ficou 30,5% mais caro. O motivo das desvalorizações exageradas da moeda brasileira ainda serão motivo de longa querela de economistas. Instituições do mercado financeiro, dívida alta com déficit crescente, juros, depressão econômica, desgoverno Bolsonaro, tudo tem sua parte.

Tabelar preços limita investimento e inovação (em eficiência e em alternativas, como energia renovável ou carne verde). Decretar que um produto deva ser feito no Brasil (diesel ou tênis e celulares da Ásia) tende a dar em ineficiência: é até possível fazer, mas usando capital e trabalho que poderiam ser destinados a atividade que desse mais retorno. Podemos, pois, produzir de tudo por aqui, mais caro, e ficarmos mais pobres. Sim, alguns países inventaram indústrias eficientes. Ao menos desde 1980, quase só fizemos besteira nessa área, doando dinheiro a grande empresa malandra, sob Lula 2 e Dilma inclusive.

Para não deixar pobres em amargura ainda maior, é preciso remendos, como renda mínima. No mais, a coisa não é simples.

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