Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Descrição de chapéu petrobras

Bolsonaro chama a horda para queimar a bruxa da Petrobras

Efeito da demagogia no preço será mínimo, mas Bolsonaro quer botar a culpa em alguém

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Jair Bolsonaro quer queimar na fogueira a bruxa da Petrobras. Ainda que não consiga baixar o preço da gasolina e do diesel em alguns centavos, o que está mesmo difícil, tenta açular a horda contra um inimigo do povo, uma personagem do Ibsen do lixão dos desclassificados.

Parece se divertir com isso também, como um moleque arruaceiro surtado que desabafa seu ódio rindo com a destruição que causa: com a CPI, a Petrobras iria perder mais R$ 30 bilhões, como disse no final de semana.

A CPI talvez não venha, mas serviu como ameaça facinorosa, que acabou por derrubar o presidente da petroleira, mas não apenas. O poderoso centrão, presidente da Câmara e chefe da família que sustenta Bolsonaro e faz as vezes de governo, Arthur Lira (PP-AL) ameaçou pegar a família dos diretores da Petrobras e fuçar a vida deles por meio da Comissão Parlamentar de Inquérito. É um aviso a quem se meter a besta.

O presidente Jair Bolsonaro conversa com Arthur Lira (PP-AL) - Sergio Lima/AFP

Da parte do poderoso centrão, dos partidos mais lambuzados no petrolão e no mensalão, é também um movimento de guerrilha, para derrubar a lei das estatais. Assim ficaria mais fácil nomear alguém para uma "diretoria que fura poço", na frase imortal de Severino Cavalcanti. Cavalcanti foi o primeiro grito de guerra e Carnaval do centrão, eleito presidente da Câmara em 2005, caído por corrupção em lanchonete. Parecia escárnio, mas era aviso. Lira é a metamorfose sinistra de Cavalcanti.

Em lugar mais sério, Lira teria problemas com sua ameaça. Se sabia de rolo na Petrobras e não fez nada até agora, prevaricou. Se não sabe de nada, comete algum tipo de ameaça ou de constrangimento ilegal. Cadê a CPI da Codevasf ou do FNDE, das suspeitas de superfaturamento de negócio com emenda parlamentar?

Quanto à maçaroca de medidas incompetentes e estelionatárias, pouco devem render até em termos demagógicos. Se o lucro inteiro da Petrobras fosse para o vinagre, para subsídio, o preço do litro da gasolina e do diesel não baixaria mais de R$ 1 e recomeçaria a ruína da empresa. Tributar a exportação de petróleo bruto é idiotice mesmo para a malandragem (a Petrobras perde dinheiro e se faz o quê com petróleo bruto? Fogueira?).

Vale-gás e auxílio-caminhoneiro até que ajudam alguma gente, mas são políticas sociais ruins. Estourar de novo o teto de gastos para dar subsídio direto vai render centavos no preço e causar dano colateral imediato e mais inflação e/ou juros.

Em suma, trata-se de um bando de trogloditas que lida com uma máquina complicada. Em tempos mais calmos, os brucutus cheiram e arranham a máquina. Na fúria, arrebentam tudo a bordoada, para ver se de lá sai uma banana, um ovo de ouro, dinheiro ou votos.

Quanto a Bolsonaro, claro, sempre foi isso. Além de tentar disfarçar sua laborfobia, ignorância e covardia (a culpa é sempre de outrem), exprime seu ressentimento do fracassado por meio de variações do desejo de matar: destrua-se o sistema, linchem os governadores na epidemia, o STF em qualquer situação, os quilombolas, o fiscal ambiental, os índios, os gays, a esquerdalha etc.

Tudo isso é muito velho, sabido por qualquer pessoa adulta e sã. A observação reiterada serve para lembrar o papel dos colaboracionistas mais disfarçados, os que chamavam o Brasil de "um país normal", os que diziam "fora ruídos, vejo avanços" e os omissos em geral, das elites em particular.

Mais do que isso, serve para lembrar a essa gente: Bolsonaro não tem limite. Vai destruir o que estiver no caminho do seu projeto de tirano e de livrar a família da cadeia. Vai quebrar o país, se juntar a qualquer tipo miliciano ou centrão. Se puder, vai pegar você, a sua empresa e o seu dinheiro.

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