Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Lula e Alckmin combinam seu programa de fim de ano

Em jantar com donos do dinheiro, os dois mostram afinidade mais do que pessoal

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Em mais um jantar de Lula da Silva com donos do dinheiro grosso, um empresário disse que perguntou "com jeito" ao ex-presidente se as diretrizes de programa que o PT lançou na semana passada eram para valer.

Lula nem disse sim nem não. Perguntou se o empresário tinha ouvido o discurso de Geraldo Alckmin (PSB), seu vice, no começo da reunião. Para quase todo mundo, disse que ele e Alckmin aprenderam com "anos de cadeira" e erros no governo. A crise que explodiu em 2015 teve "muitos motivos": baixa do preço das commodities e na economia mundial e também "erros de políticas de gente nossa".

Alckmin falara em detalhes da continuidade de FHC a Lula nas políticas sociais e de controle de dívida e inflação etc. Disse que "eleição é comparação" e que a alternativa é alguém que "rompeu" com o progresso dos anos tucano-petistas e ameaça ruptura maior, com a democracia.

O ex-presidente Lula (PT) e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) durante evento do PT em maio - Nelson Almeida - 23.mai.2022/AFP

Alguns poucos petistas têm dito coisa parecida sobre o papel de Alckmin, assim como pessoas com quem Lula conversa com certa frequência, de fora do partido. Mais do que desanuviar ambientes de direita para Lula e mais do que um vice "fiador", como o empresário José Alencar (1931-2011), viria a ser um vice "formulador", que faria parte do governo.

Sabe-se lá, mas é o que diz gente em condições de ver algo além da névoa espessa que encobre o projeto de um eventual Lula 3. Projeto: planos específicos, quadros capazes de executá-los, apoio político e articulação social para apoiá-los.

A impressão de gente que esteve no jantar é de que são grandes o entrosamento e a familiaridade de Lula e Alckmin. A convergência seria reforçada pela influência de Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e candidato ao governo paulista, e de Gabriel Chalita, ex-secretário de governo de Alckmin.

Haddad não entra em bolas divididas no PT, diz um ex-governador petista. Circula entre quadros técnicos e acadêmicos da "direita à esquerda": é alguém que vai trazer o "arejamento" (sic) para o PT. Alckmin ouviria muito Chalita, uma espécie de secretário político-programático, diz um empresário que fala bem com gregos e troianos.

Haddad e Chalita comeriam o mingau do projeto de governo bem pelo meio, evitando as bordas e as bordoadas do conflito interno da chapa de Lula. A via Haddad-Chalita seria um caminho por onde passaria a aproximação de Lulalckmin com quadros de governo, em especial na área econômica.

Ao empresário do início deste texto, Lula teria dito que o programa nunca é "fechado", que será resultado de conversas, inclusive como as daquela noite. Além do mais, teria dito algo como é "preciso ter planos, mas nem tudo dá para fazer e tudo depende da conjuntura", como qualquer empresário deve saber também para seus negócios.

Lula não tem equipe econômica nem de campanha, mas coordenadores de programa, diz um petista. Políticos, em especial ex-governadores, disputam a cadeira do ministro da Economia "político", que daria guarida a quadros técnicos. Quais? Ninguém tem pista ou ideia.

Alckmin tampouco tem equipe. Não levou quadros da sua migração do PSDB nem agregou outros, embora fale com muita gente para elaborar ideias e juntar fatos, tais como os que apresentou no jantar de terça. Chalita daria um formato a essas apresentações.

De mais específico, Lula teria falado pouco, segundo quatro pessoas que estiveram no jantar. Disse que não haverá "sustos". Que está preocupado em como atrair investimento estrangeiro e privado, com parcerias. Que o BNDES desta vez apoiaria pequenas e médias empresas, de inovação e "desenvolvimento verde", para os quais não há financiamento a bom custo no mercado.

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